sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Crítica – Cyberpunk: Mercenários

 

Análise Crítica – Cyberpunk: Mercenários

Review – Cyberpunk: Mercenários
Apesar do bom histórico da Netflix com animações baseadas em games, não me interessei de imediato por este Cyberpunk: Mercenários, animação que se passa no mesmo universo do game Cyberpunk 2077 (e consequentemente do RPG de mesa em que se baseia). Ainda assim, decidi conferir sem muita expectativa e o resultado é uma das melhores séries baseadas em games desde Castlevania.

A trama se passa um ano antes dos eventos do game e é protagonizada por David, um garoto de origem humilde que tenta sobreviver a Night City ao lado da mãe. Quando a mãe de David morre em um acidente, o jovem descobre que ela tinha implantes de combate altamente avançados no corpo. David instala os implantes em si mesmo e logo é encontrado pelo grupo de mercenários com os quais sua mãe trabalhava, inevitavelmente aceitando prestar serviços para eles já que não tem mais nada a perder.

Assim como o game, a trama é dotada de um fatalismo típico do film noir, refletindo como a sociedade é desigual, como os poderosos dominam tudo livres de consequência enquanto os demais brigam para sobreviver em meio aos restos deixados por quem tem mais. Night City é uma amante traiçoeira, seduzindo com promessas de prosperidade de que com as habilidades certas é possível se tornar uma lenda, mas devorando e triturando sem piedade qualquer um que ouse tentar ascender sua implacável pirâmide social.

É um espaço em que as pessoas fazem tudo para sobreviver, inclusive comprometer os próprios valores ou trair os amigos. Aqui, porém, quando essas coisas acontecem os personagens tem motivações e personalidades bem construídas o suficiente para que a trama nunca caia em maniqueísmos simples, nos fazendo entender a complexidade da situação e como o ambiente social de Night City é cruel ao ponto de colocar aliados uns contra os outros.

Nesse sentido, o arco de David é justamente mostrar como Night City desumaniza as pessoas. Ainda que tenha boas intenções, tentando se tornar mais forte para proteger os amigos, o protagonista vai se perdendo em sua jornada por poder, comprometendo seus valores e humanidade. A quantidade cada vez maior de implantes cibernéticos que transformam a aparência de David é um indicativo visual que opera em níveis literais e simbólicos do quanto ele está se distanciando de quem era, abrindo mão da personalidade e valores para se reduzir a uma máquina de combate. É por vermos David gradativamente sumir em meio a todo o cromo que seu desfecho trágico consegue emocionar tanto.

Falando em implantes, as cenas de ação são altamente eficientes em mostrar a brutalidade do que um indivíduo aprimorado é capaz de fazer, não economizando na violência e explorando de maneira criativa como diversos equipamentos e softwares podem ser usados em combate. Do Sandevistan usado por David para se mover em alta velocidade, passando pelos hacks de Lucy e Kiwi ou mesmo as armas aprimoradas de Becca, qualquer vantagem que pode ser obtida em Night City é capaz de ser usado de maneira eficientemente brutal.

A ação é tão boa que me deu vontade de retornar a Ciberpunk 2077 e testar equipamentos e builds que não usei no jogo, como o monofio ou o sistema operacional Sandevistan. Considerando como o número de jogadores aumentou nas últimas semanas, atingindo valores maiores do que no lançamento dois anos atrás, eu diria que não fui o único a me sentir assim.

Ponderando sobre a perda de humanidade em um mundo no qual tecnologia é poder, Cyberpunk: Mercenários mantém o fatalismo tecnológico do game nos apresentando a um universo sombrio e brutal no qual a esperança tem dificuldade em resistir.

 

Nota: 9/10


Trailer

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