O filme demora um pouco a chegar no seu ponto principal, mas uma vez que chega é bem eficiente em ilustrar as experiências de uma juventude em um mundo cujas desigualdades são bem conhecidas. Da mesma forma que Sean e seus amigos são movidos pelo temor do racismo, a irmã de Emma, Maddy (Sabrina Carpenter), se mostra bastante preocupada com seu sumiço justamente por saber o que pode acontecer com uma mulher bêbada em uma festa universitária.
O humor vem dos constantes diálogos sarcásticos entre Sean e Kunle sobre a gravidade da situação, já que Kunle, que vem de uma família abastada, não demonstra o medo das autoridades que Sean tem simplesmente por não ter passado pelas mesmas experiências do colega. Além disso, o filme expõe o absurdo de muitas situações em que o racismo estrutural se manifesta, como no momento em que Sean para o carro em uma vizinhança branca e é imediatamente filmado por uma mulher na janela, como se o fato de ser um homem negro dentro de um carro o tornasse automaticamente uma ameaça.
Do mesmo modo, quando Sean vai à casa do irmão pedir um carro emprestado e conta que é para transportar uma garota branca bêbada e menor de idade, todos os amigos do irmão saem correndo da casa imediatamente porque sabem o risco que é para um homem negro ser pego em uma situação assim. O filme também diverte pelo puro absurdo, como no momento em que Emma escapa do carro e é encontrada pelo trio de protagonistas vomitando do alto de uma árvore.
Mesmo em meio ao caos e ao absurdo, a narrativa consegue ser séria quando o momento exige, principalmente nos minutos finais quando Kunle é atacado pela polícia mesmo quando não havia motivo para tal. A cena ilustra toda a violência do ato e sensação de desamparo sentida pelo personagem. Até então Kunle, protegido pelo seu privilégio de classe social, achava que não tinha nada a temer das autoridades, aprendendo da pior maneira possível como é ser julgado meramente pela cor da pele e como a polícia costuma tratar pessoas como ele. O racismo dessa ação é evidenciado pelo fato de que mais ninguém no carro, nem Maddy ou Carlos (que apesar de ser latino tem pele clara), são tratados com a mesma agressividade pela polícia. Kunle foi o único a querer fazer a coisa certa desde o início e é tratado da pior maneira possível, o que diz muito sobre nossa sociedade. A imagem final mostra como as marcas e o trauma da experiência continuam e provavelmente continuarão a marcar o personagem conforme seu semblante se altera para o puro horror ao simplesmente ouvir o som de uma sirene.
Equilibrando uma comicidade ácida
com momentos competentes de drama, Emergência
traz ponderações sobre juventude e racismo.
Nota: 7/10
Trailer
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