sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Crítica – Emergência

 

Análise Crítica – Emergência

Review – Emergência
Fui assistir Emergência imaginando que seria só mais uma comédia universitária sobre festas, bebedeiras e coisas dando errado, então foi uma grata surpresa ver que ele tinha mais a dizer do que isso. Na trama, os universitários Sean (R.J Cyler) e Kunle (Donald Elise Watkins) planejam uma noite lendária participando das festas de todas as fraternidades do campus se tornando os primeiros alunos negros a fazerem isso. Os planos são frustrados quando eles encontram uma garota branca bêbada, Emma (Maddie Nichols), caída na casa deles. Kunle quer chamar os serviços de emergência, já que a garota parece estar muito mal, mas Sean imagina que dois caras negros chamando a polícia por conta de uma mulher branca na casa deles cuja presença não podem explicar pode dar problemas aos dois. Assim, a dupla junto com o colega de quarto Carlos (Sebastian Chacon) decidem levar Emma a um hospital, mas chegar lá não deve ser tão simples.

O filme demora um pouco a chegar no seu ponto principal, mas uma vez que chega é bem eficiente em ilustrar as experiências de uma juventude em um mundo cujas desigualdades são bem conhecidas. Da mesma forma que Sean e seus amigos são movidos pelo temor do racismo, a irmã de Emma, Maddy (Sabrina Carpenter), se mostra bastante preocupada com seu sumiço justamente por saber o que pode acontecer com uma mulher bêbada em uma festa universitária.

O humor vem dos constantes diálogos sarcásticos entre Sean e Kunle sobre a gravidade da situação, já que Kunle, que vem de uma família abastada, não demonstra o medo das autoridades que Sean tem simplesmente por não ter passado pelas mesmas experiências do colega. Além disso, o filme expõe o absurdo de muitas situações em que o racismo estrutural se manifesta, como no momento em que Sean para o carro em uma vizinhança branca e é imediatamente filmado por uma mulher na janela, como se o fato de ser um homem negro dentro de um carro o tornasse automaticamente uma ameaça.

Do mesmo modo, quando Sean vai à casa do irmão pedir um carro emprestado e conta que é para transportar uma garota branca bêbada e menor de idade, todos os amigos do irmão saem correndo da casa imediatamente porque sabem o risco que é para um homem negro ser pego em uma situação assim. O filme também diverte pelo puro absurdo, como no momento em que Emma escapa do carro e é encontrada pelo trio de protagonistas vomitando do alto de uma árvore.

Mesmo em meio ao caos e ao absurdo, a narrativa consegue ser séria quando o momento exige, principalmente nos minutos finais quando Kunle é atacado pela polícia mesmo quando não havia motivo para tal. A cena ilustra toda a violência do ato e sensação de desamparo sentida pelo personagem. Até então Kunle, protegido pelo seu privilégio de classe social, achava que não tinha nada a temer das autoridades, aprendendo da pior maneira possível como é ser julgado meramente pela cor da pele e como a polícia costuma tratar pessoas como ele. O racismo dessa ação é evidenciado pelo fato de que mais ninguém no carro, nem Maddy ou Carlos (que apesar de ser latino tem pele clara), são tratados com a mesma agressividade pela polícia. Kunle foi o único a querer fazer a coisa certa desde o início e é tratado da pior maneira possível, o que diz muito sobre nossa sociedade. A imagem final mostra como as marcas e o trauma da experiência continuam e provavelmente continuarão a marcar o personagem conforme seu semblante se altera para o puro horror ao simplesmente ouvir o som de uma sirene.

Equilibrando uma comicidade ácida com momentos competentes de drama, Emergência traz ponderações sobre juventude e racismo.

 

Nota: 7/10


Trailer

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