Assim, Kirby se aproxima de Dan (Wagner Moura) o repórter responsável pelo caso, para ajudá-lo na investigação. O trauma não é o único fardo que Kirby carrega após o ataque. Há também o problema de que ela constantemente experimenta mudanças bruscas em sua realidade, como descobrir que mora em um apartamento diferente do que estava quando saiu pela manhã para trabalhar. Aviso que o texto a seguir pode conter SPOILERS da série.
A noção de uma realidade mudando ao redor da personagem cria um componente inesperado no que seria só mais uma trama típica de serial killer. De início já somos colocados na posição de indagar o que está acontecendo com Kirby. É tudo real ou fruto de alguma instabilidade mental? Ela está se deslocando no tempo? Entre dimensões? Universos? São elementos que contribuem para uma atmosfera de incerteza que perturba a acomodação de elementos típicos de tramas policiais/investigativas em que a série se apoia na maior parte do tempo.
Esse conceito também acaba servindo de metáfora para o peso que o trauma de ter sobrevivido a um ato brutal de violência tem sobre a protagonista. É como se depois do ataque o mundo à sua volta não fizesse mais sentido, como se a vida das pessoas tivesse seguido normalmente enquanto ela ficasse parada no tempo. Assim, o literal deslocamento de Kirby da realidade serve para ilustrar o deslocamento psicológico dela em relação ao mundo ao seu redor.
Elizabeth Moss é eficiente em apresentar a angústia de Kirby e o senso de desamparo da personagem ao ser colocada em uma situação que não compreende e teme soar como louca caso tente compartilhar com alguém o modo como se sente. Wagner Moura consegue dar alguma humanidade e vulnerabilidade a Dan ainda que o personagem não consiga ir além do lugar comum do repórter marcado por erros do passado que tenta reconstruir a carreira. Já Jamie Bell dá a Harper uma aura de perigo e imprevisibilidade, fazendo dele um predador temível, principalmente por suas habilidades estranhas que, assim como Kirby, não sabemos exatamente se ele está se deslocando no tempo, no espaço ou em que direção.
É justamente no modo como tenta amarrar os elementos investigativos e sobrenaturais que a trama decepciona. Se no livro as motivações de Harper são bem explicadas e é possível compreender até certo ponto a relação dele com a “Casa” (a força que o permite se deslocar temporalmente) e como esses elementos funcionam, na série tudo é explicado de maneira muito vaga. Desta maneira, as revelações dos últimos episódios não impactam o tanto que deveriam porque não fazem muito para aprofundar os personagens ou a mitologia ao redor deles. Harper, por exemplo, termina como um psicopata genérico porque suas motivações (ou as motivações da Casa para com ele) não são desenvolvidas a contento. A impressão é que esses elementos foram deixados propositalmente em aberto para serem explorados em uma possível segunda temporada, mas isso acabou prejudicando a narrativa presente aqui.
Desta maneira, Iluminadas apresenta uma boa
protagonista e um mistério instigante com elementos de sobrenatural, mas
derrapa no modo como tenta amarrar todas as suas tramas.
Nota: 6/10
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