terça-feira, 6 de setembro de 2022

Crítica – Samaritano

 

Análise Crítica – Samaritano

Review – Samaritano
Estrelado por Sylvester Stallone, Samaritano é um filme de super-heróis que parece ter sido feito na década de 80 e 90, quando Hollywood ainda via esse tipo de produção com certo estigma e não entendia exatamente como essas tramas e universos funcionavam. Hoje filmes de super-heróis são hegemonia entre os blockbusters e ainda assim essa produção da Prime Video consegue soar bastante datada.

Na trama, Sam (Javon Walton, o Ashtray de Euphoria) é um garoto obcecado pela figura do Samaritano, um super-herói que teria se sacrificado anos atrás para derrotar Nemesis, seu irmão gêmeo e super-vilão. O Samaritano é dado como morto, mas Sam acredita que ele esteja vivo. Um dia, Sam está sendo espancado pelos garotos de sua rua envolvidos na gangue do criminoso Cyrus (Pilou Asbaek) quando é salvo por Joe (Sylvester Stallone), um homem idoso e extremamente forte. Sam suspeita que Joe seja, na verdade, o Samaritano e tenta convencê-lo a voltar a ser herói, principalmente para deter Cyrus, que tenta levar a cabo os planos de Nemesis para criar anarquia na cidade.

Apesar de iniciar com uma longa narração que estabelece o passado do Samaritano e desses eventos da batalha entre ele e Nemesis serem retomados ao longo do filme, a narrativa nunca dá plenamente um contexto do que estava em jogo. Ouvimos vagamente do rancor entre esses irmãos, mas não do que exatamente causou isso. Assim tudo soa como um dispositivo do roteiro, feito para fazer a trama andar, do que algo orgânico entre esses personagens.

Essa construção vaga da mitologia impacta nas ações presentes dos personagens. É dito por Cyrus que Nemesis não era exatamente um vilão, que ele queria derrubar as estruturas opressivas da sociedade enquanto que o Samaritano era um veículo do status quo social. Isso poderia servir para quebrar o maniqueísmo da história, mas como não clareza do que aconteceu no passado isso nunca funciona. Inclusive há uma reviravolta no final em que deixa claro que Nemesis era movido apenas pelo rancor do irmão, mas a revelação de quem era o vilão não impacta justamente por não sabermos nada concreto sobre a rivalidade entre ambos.

Do mesmo modo a ideia de que Cyrus quer algum tipo de revolução social anarquista nunca convence. O gângster diz que quer seguir os passos de Nemesis e combater as desigualdades, mas nunca o vimos efetivamente fazer nada para ajudar os outros. Todas as vezes que o vemos em cena ele apenas age de modo cruel e sádico. Tudo bem que Pilou Asbaek é ótimo em ser um vilão sádico (vide o Euron Greyjoy em Game of Thrones), mas o texto tenta indicar que há mais no personagem do que isso, algo que nunca se concretiza.

A dinâmica entre Sam e Joe é o clichê do jovem ingênuo com um mentor calejado. O jovem irá lembrar o mentor de seu potencial perdido por conta de um trauma passado, enquanto que o mentor irá ensinar o jovem a lidar com suas dificuldades. Toda a relação é uma coleção de lugares comuns sem personalidade, prejudicada ainda por uma performance desinteressada de Stallone.

As cenas de ação deveriam mostrar o poder e brutalidade de Joe, no entanto, por conta da classificação baixa. A pancadaria acaba sendo “limpa” demais para realmente dar conta da brutalidade e do estrago que as situações tentam evocar, em especial no confronto derradeiro entre Joe e a gangue de Cyrus no clímax do filme. Era preciso ser mais explícito na violência para que ela funcionasse do jeito que deveria, algo mais próximo de um The Boys do que da violência asséptica dos filmes da Marvel.

A impressão é que tudo foi feito com a noção de que bastava criar um universo em que pessoas com poderes existissem e se criasse um pretexto para cenas de ação seria o suficiente para uma narrativa de super-heróis. Considerando o quanto esse tipo de história ganhou complexidade e dialogou com diferentes gêneros, tudo soa como um produto feito décadas antes das tramas de heróis se tornarem o mainstream do cinema.

Samaritano soa como um filme datado, prejudicado por uma coleção de clichês pouco imaginativos e personagens vagamente construídos. O resultado é uma espécie de Corpo Fechado (2000) encomendado pela Shopee.

 

Nota: 4/10


Trailer

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