Eu tenho um fraco por filmes que se passam em tempo real. Me interessa o esforço criativo em contar uma história satisfatória em um tempo e espaço bem restritos, mantendo o interesse do espectador e a trama andando. Alguns filmes, como Por um Fio (2002) fazem isso muito bem. Outros, como este A Hora do Desespero se perdem no esforço de encadear uma reviravolta atrás da outra ao ponto em que nada faz sentido.
A trama é protagonizada por Amy (Naomi Watts), que está em seu dia de folga e sai para correr em uma trilha próxima. No meio do caminho recebe a notícia de que há um tiroteio na escola em que seu filho estuda e precisa sair correndo do meio do nada onde está de volta para a cidade na esperança de ter alguma notícia.
É um filme que inicialmente parece dialogar com o medo bastante real nos Estados Unidos de que a qualquer momento um pai ou mãe pode receber essa notícia. De que se tornou um evento tão cotidiano que as pessoas já vivem sob o constante temor de que é algo que pode acontecer consigo. De início, o filme trabalha bem esse senso de pânico conforme Amy corre pelo mato saltando entre uma ligação telefônica e outra tentando entender o que está ocorrendo.
A questão é que depois desses minutos iniciais o filme se perde em seus próprios esforços de criar suspense e apresentar uma grande reviravolta depois da outra na tentativa de manter nossa atenção. A partir daí a trama se entrega a uma série de coincidências bastante convenientes e uma série de eventos tão implausíveis e forçados que quebram nossa imersão na trama. O que começa como uma análise sobre um temor cotidiano se reduz a uma mera espetacularização sensacionalista desse medo sem nada a dizer sobre ele ou entender os fatores ao redor desse tipo de evento.
Naomi Watts consegue se manter focada em transmitir a urgência e desespero de Amy, mas mesmo as emoções convincentes da atriz não conseguem sustentar um texto com tantos desenvolvimentos difíceis de aceitar, com tão pouca sensibilidade e pouco a dizer sobre o tema dolorosamente real do qual trata. Os minutos finais até tentar devolver um olhar mais realista sobre a questão dos tiroteios em escolas ao mostrar o filho de Amy falando sobre o acontecido, mas a cena, que deveria ser inspiradora e mobilizadora, não consegue surtir o efeito desejado. Em parte porque sabemos muito pouco sobre o que aconteceu com o filho durante o tiroteio, então as palavras dele carecem de algo que lhes dê o devido peso. Em parte porque essa tentativa de apresentar algo mais próximo da realidade depois de um clímax completamente absurdo e forçado cria uma bagunça tonal que esvazia esse discurso de encerramento. Como ele praticamente não se relaciona com nada do que vimos até então, fica difícil se importar.
A despeito dos esforços de Naomi
Watts em nos envolver nos sentimentos da protagonista, A Hora do Desespero se perde em um roteiro problemático com pouca
sensibilidade para tratar do tema delicado que explora e dos medos reais
envolvidos nele.
Nota: 3/10
Trailer
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