sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Crítica – O Telefone do Sr. Harrigan

 

Análise Crítica – O Telefone do Sr. Harrigan

Review – O Telefone do Sr. Harrigan
Baseado em um conto de Stephen King, O Telefone do Sr. Harrigan tenta simultaneamente falar de nossa relação com tecnologia, dos impactos do luto e também dos perigos em conseguir exatamente o que queremos. São ideias que poderiam render um suspense sobrenatural interessante, mas que o filme nunca desenvolve de modo a ter algo significativo a dizer.

A trama é protagonizada por Craig (Jaeden Martell), um jovem contratado pelo rico idoso Sr. Harrigan (Donald Sutherland) para periodicamente ler livros para ele. Ao longo das sessões de leitura, Craig e Harrigan se tornam amigos, com Craig dando ao seu idoso patrão um smartphone para que possam se comunicar facilmente. Inevitavelmente Harrigan morre, mas estranhamente continua a responder Craig pelo telefone.

Inicialmente o filme parece explorar uma tecnofobia similar a algo como O Chamado (2002), explorando como as máquinas conectadas à internet permitem que a informação se multiplique e que quebremos fronteiras de espaço e tempo, podendo ser acessados infinitamente. O problema é que conforme a trama se desenvolve, boa parte desses temas se dilui em outras pretensões narrativas e nenhuma delas consegue envolver.

As melhores ideias sobre a questão da tecnologia são exploradas já no início quando o Sr. Harrigan prevê o sombrio futuro da internet (a trama se passa por volta de 2007 no lançamento do primeiro iPhone), sendo que boa parte das considerações dele sequer repercutem na trama. O remorso que Craig sente pela morte de seus desafetos, supostamente causados pelo espírito vingativo do Sr. Harrigan, não é devidamente construído e muitas vezes soa desproporcional. Isso acontece principalmente no final, quando a vítima era alguém responsável pela morte da professora de Craig no ensino médio, era uma pessoa realmente horrível e alguém que o protagonista mal conhecia. Desta maneira, é difícil embarcar na pesada espiral de culpa que Craig se envolve, porque a narrativa nunca dá muitas razões para que seus sentimentos caminhem a extremos tão grandes.

Por outro lado, o filme acerta em nunca tentar explicar demais os eventos, deixando incerto o funcionamento do “espírito” do Sr. Harrigan, trabalhando a dualidade dos eventos de modo a deixar incerto se há uma presença sobrenatural ou se tudo não foi apenas uma coincidência. Ao final, conforme Craig aprende sobre as mortes, vai se tornando mais explícita a presença de um elemento sobrenatural, embora ainda assim o filme inteligentemente nunca o explique plenamente, mantendo uma aura de mistério e temor sobre isso. É como se a recusa em explicar conservasse esses elementos sobrenaturais em uma esfera que nunca compreendemos plenamente e essa incompreensão mantem o nosso temor e apreensão.

Outro grande acerto é o trabalho de Donald Sutherland, que mesmo com pouco tempo de tela tem uma participação significativa como o Sr. Harrigan. O ator consegue transmitir o cansaço e a solidão de alguém que passou a vida construindo uma fortuna, mas pouco preocupado em laços afetivos. Ainda que demonstre a saúde decadente de Harrigan, Sutherland consegue fazer de seu personagem uma presença imponente e assertiva, um elemento importante para as futuras ações, digamos, “etéreas” do personagem após o seu falecimento, nos fazendo crer que ele poderia sim ser um espírito vingativo.

É uma pena que o início promissor de O Telefone do Sr. Harrigan desemboque em um desenvolvimento que tem tão pouco a dizer sobre as principais ideias que o texto tem para desenvolver. Havia aqui o potencial para um filme bacana, mas ele nunca é concretizado.

 

Nota: 5/10


Trailer

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