quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Crítica – Passagem

 

Análise Crítica – Passagem

Review – Passagem
Não esperava muita coisa de Passagem, fui assistir sem saber nada a respeito e me surpreendi com o cuidado com o qual o filme trata o caminho de reabilitação de seus personagens do trauma que sofreram. A trama é focada em Lynsey (Jennifer Lawrence), uma soldado que volta à sua cidade natal depois de sofrer uma lesão na cerebral enquanto servia no Afeganistão. Precisando se recuperar física e psicologicamente, Lynsey consegue um trabalho limpando piscinas e começa uma amizade com o mecânico James (Bryan Tyree Henry), que perdeu uma perna e a família inteira em um acidente de carro.

Desde as primeiras cenas o filme constrói uma atmosfera de solidão investindo nos silêncios, nos ruídos ambientes, com pouca ou nenhuma música, ressaltando os vazios e ausências que marcam o cotidiano de Lynsey. Do mesmo modo, já nos primeiros momentos vemos como os traumas do Afeganistão ainda estão presentes na personagem como no ataque de pânico que ela tem assim que começa a dirigir.

É uma narrativa mais introspectiva, que se constrói através dos olhares e movimentos discretos (ou ausência de movimento já que Lynsey ainda tem dificuldade de manusear objetos por conta da lesão cerebral), com Jennifer Lawrence sendo eficiente em trazer a dor e o desespero silencioso de Lynsey por estar naquela situação. Igualmente competente é o trabalho de Bryan Tyree Henry, que traz um olhar pesaroso e cansado para James, um sujeito que se deixou afundar na própria culpa e luto.

Os dois desenvolvem uma amizade bastante crível, deixando evidente para o espectador como esses dois indivíduos extremamente traumatizados ficam confortáveis na presença um do outro por identificarem alguém que seria capaz de entender o que passaram. São duas pessoas que veem um no outro a chance de quebrarem o silêncio e a solidão que seus traumas impuseram às suas vidas interagindo com alguém que não os veria meramente como coitados, como alguém a se ter piedade. Conforme eles se aproximam, vamos sabendo mais sobre seus passados e o peso do trauma que carregam, aprofundando nosso entendimento sobre eles.

O final, porém, encerra tudo de maneira muito rápida, reconstruindo a amizade entre os dois depois de um desentendimento. É compreensível que a ruptura aconteça quando Lynsey fala sobre ter pena de James, já que ambos buscavam alguém que não lhes olhasse dessa maneira, mas mal temos tempo de repercutir essa desavença e o filme já está encerrando com a reconstrução dessa amizade e do jeito como é construído não soa devidamente merecido. Ainda assim o filme acerta em não trazer uma resolução definitiva para os traumas dos dois personagens, entendendo que esse processo de reabilitação é lento, não acontece do dia para noite, que certos traumas estarão sempre presentes e que o importante é ter pessoas que nos apoiem ao nosso lado.

Ainda que derrape em seu desfecho, Passagem é um sensível estudo de personagem refletindo sobre como reconstruir a vida depois de um grande trauma.

 

Nota: 7/10


Trailer

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