Na série, depois de quase matar um grupo de garotos que fazia bullying com o seu irmão, Wandinha (Jenna Ortega) é expulsa da escola e seus pais a matriculam no colégio interno Nunca Mais, instituição em que Gomez (Luis Guzman) e Mortícia (Catherine Zeta Jones) estudaram quando jovens. Apesar de situado em uma pacata cidade do interior, o colégio é frequentado por párias e seres sobrenaturais que, obviamente, não se dão bem com os habitantes da cidade. As coisas se complicam quando uma estranha criatura começa a matar tanto estudantes quanto locais, mas Wandinha decide investigar os crimes.
Jenna Ortega é uma escalação perfeita como Wandinha, captando os maneirismos secos, a fala direta e o senso de humor sombrio da jovem Addams. O carisma trevoso que Ortega traz para a personagem mantem a jornada de Wandinha interessante e excêntrica (a cena de dança no quarto episódio é impagável) mesmo quando tudo ao seu redor se limita a reproduzir clichês batidos de séries adolescentes.
Toda a estrutura de jovens colegiais resolvendo crimes em série em uma cidade de interior remete a produções como Riverdale enquanto que a ideia de um colégio interno de estudos sobrenaturais dividido em casas com competições entre elas remete a Harry Potter. Essas escolhas de estrutura narrativa soam convencionais demais para a pouco convencional Família Addams e o universo em que eles habitam.
Todos os colegas de escola de Wandinha são unidimensionais e feitos para reproduzir arquétipos comuns desse tipo de ficção. Isso inclui os dois possíveis interesses românticos da protagonista, que existem apenas para forçar um triângulo amoroso que sequer precisava existir e para aumentar o número de suspeitos. Os dois garotos são tão pouco memoráveis que sequer consigo lembrar o nome deles. Desde O Mundo Sombrio de Sabrina não vejo interesses românticos tão sem graça.
No núcleo da escola apenas Enid (Emma Myers) se salva. Sim, ela é a típica melhor amiga engraçadinha e espevitada, mas a garota tem uma presença enérgica o suficiente para encantar e sua personalidade colorida e ativa cria um contraste divertido com o jeito gótico trevoso da Wandinha. Além disso, ela é a única dos coadjuvantes com algum tipo de arco narrativo.
No lado dos Addams, que aparecem relativamente pouco, Catherine Zeta Jones e Fred Armisen divertem como Mortícia e Tio Chico, respectivamente. Por outro lado, Luis Guzman acaba não funcionando como Gomez, faltando a ele a presença vivaz do patriarca Addams. Além disso a narrativa coloca à família alguns conflitos que não fazem sentido diante do que sabemos sobre esses personagens. Considerando o que sabemos sobre a devoção de Gomez por Mortícia e vice-versa, é difícil crer que qualquer um dos dois hesitaria em matar para proteger o outro ou se sentiria culpado por isso. Por outro lado, a série acerta em construir uma temática bastante comum às histórias dos Addams, a de que são as pessoas comuns que posam como indivíduos de bem que são os verdadeiros monstros ameaçadores e intolerantes, não os excêntricos e sombrios Addams.
É graças ao talento de Jenna
Ortega que Wandinha consegue
divertir, já que a série se apoia demais nos lugares comuns da ficção
adolescente.
Nota: 6/10
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