quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Lixo Extraordinário – Fuga Para a Vitória

 

Análise Crítica – Fuga Para a Vitória

Review Crítica – Fuga Para a Vitória
Pelé é o maior jogador de futebol de todos os tempos. Na década de oitenta Sylvester Stallone era um dos astros de Hollywood em maior ascensão depois do sucesso do primeiro Rocky. Logo, juntar os dois em um filme como este Fuga Para a Vitória, lançado em 1981, não tinha como ser ruim, certo? Errado. O resultado, embora longe do nível de incompetência de muitos filmes abordados nesta coluna (afinal trata-se de uma produção dirigida por John Houston), é extremamente entediante e falha em capturar a empolgação de uma partida decisiva de futebol.

A trama se passa durante a Segunda Guerra Mundial, focada em um campo de prisioneiros de guerra composto por soldados de diferentes países capturados pelos nazistas. Lá, Colby (Michael Caine) treina um time de futebol para passar o tempo e o estadunidense Hatch (Sylvester Stallone) tenta aprender a jogar apesar de não entender porque não se pode usar as mãos como no futebol americano. Ao ver o time de Colby o oficial nazista Steiner (Max Von Sydow) propõe um jogo amistoso entre prisioneiros e nazistas. Colby se nega inicialmente, mas aceita ao ver a possibilidade de melhorar as condições dos prisioneiros, enquanto que Hatch vê no jogo uma oportunidade de fugir.

É basicamente a trama de prisioneiros versus guardas de Golpe Baixo (1974), apenas situando a ação na Alemanha nazista e trocando o futebol americano por futebol de verdade. Dito isso, o problema nem é a similaridade, mas a falta de qualquer tensão ou urgência ao longo da projeção. Somos informados do quanto tudo é ruim no campo de prisioneiros, mas nunca efetivamente vemos ou sentimos a dureza dessas condições. Do mesmo modo, as tentativas de Hatch não nos fazem sentir que há possibilidade de fracasso e ele consegue tudo muito fácil para construir suspense de maneira eficiente.

Não ajuda que os personagens não tenham lá muita substância, sem nos dar muito para nos conectar a eles. Se nas duas versões de Golpe Baixo (tanto da estrelada por Burt Reynolds quanto a com Adam Sandler no papel principal) ao menos nos permitiam conhecer os diferentes membros do time, aqui nos limitamos a Colby, Hatch e Luís (Pelé). Também não sabemos nada sobre o time nazista, assim quando chegamos na partida eles não passam de capangas sem nome, então é óbvio que os protagonistas irão vencer, já que não há investimento algum nos adversários.

Apesar dos defeitos esperava que ao menos a partida em si fosse empolgante ou divertida, já que além de Pelé os dois times são compostos por jogadores profissionais. Supreendentemente essa é a pior parte do filme. O diretor John Houston parece não saber o que torna o futebol tão empolgante ou como filmar uma partida de modo a envolver o espectador. Apesar de ter alguém do nível de Pelé em cena, o filme opta por manter a câmera no rosto do jogador enquanto ele sai driblando os adversários, não nos permitindo ver o talento de Pelé em dominar a bola nos pés. Na verdade, toda a partida é filmada em planos muito próximos aos jogadores que não conseguem nos transmitir o contexto espacial da partida ou a posição dos jogadores em relação um ao outro.

As coisas pioram quando ação foca em Caine ou Stallone, que não são jogadores de futebol, o que obriga a câmera a cortar as tomadas com eles constantemente para substitui-los por dublês, mas o uso da montagem apenas evidencia a troca. Toda a partida é muito fragmentada e sem ritmo para dar qualquer tipo de emoção. A insipidez da partida é ampliada pelo fato de que não há nada exatamente em jogo para os protagonistas se eles perderem. Sim, os nazistas vão usar a vitória como exemplo da supremacia de seu povo, mas em um nível pessoal a derrota não tem qualquer consequência para os personagens.

O filme parece se dar conta disso na metade da partida, quando os jogadores tem a chance de escapar e decidem ficar para tentar vencer o jogo. Todo o conflito construído em torno dessa decisão soa tolo e forçado, já que até aquele ponto o jogo era tratado como um mero pretexto para a fuga e por mais que a vitória servisse para desmoralizar os nazistas, a fuga deles do estádio surtiria, de certa forma, o mesmo efeito de fazer os nazistas passarem vergonha, então não há muito sentido em criar conflito em cima dessa decisão. Na verdade, durante boa parte do filme as duas tramas, a da partida e a da fuga, mal se tocam, como se Caine e Pelé estivessem em Golpe Baixo e Stallone estivesse em Fugindo do Inferno (1963) e o momento em que as duas narrativas convergem só reforça o quanto elas não são orgânicas em relação a outra.

Com uma trama desprovida de suspense e uma condução que falha em transmitir a energia do futebol, Fuga Para a Vitória não oferece nada além de frustração.


Trailer

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