É um filme quase todo calcado em diálogos expositivos nos quais os personagens explicam o que está acontecendo ou como se sentem, contando ainda com uma narração em off que muitas vezes se limita a dizer o que está na tela diante de nós. Não ajuda que entre uma cena e outra hajam longos saltos temporais, fazendo tudo soar episódico e com pouca relação de causa e consequência. O filme tenta conectar essas cenas com uma espécie de telejornal fictício do mundo financeiro.
Claramente inspirado por televisivos como Mad Money, o programa existe como mais um veículo de exposição que, por um lado, tenta traduzir ao público alguns jargões do mundo financeiro, mas por outro é tão expositivo que me pergunto se não seria melhor ter feito um documentário. Outro problema desse segmento é que apesar de exagerado, com um apresentador que emposta a voz como um locutor de rodeio, esses segmentos são conduzidos sem um pingo de ironia, como se o filme não conseguisse se decidir se aquilo é para ser cômico ou sério.
O mesmo se aplica a todo o plantel da empresa de Eike, composto por sujeitos tão caricatos e unidimensionais que parecem ter saído do Zorra Total ou Escolinha do Professor Raimundo. Nelson (Felipe Adler) é um puxa saco tão histriônico que parece o Seu Batista da Escolinha, Benigno (Thelmo Fernandes), por sua vez, é um mero saco de pancadas de Eike. São figuras que poderiam render algum deboche acerca da estupidez e maluquice do mercado financeiro (como Scorsese fez em O Lobo de Wall Street), no entanto são observadas sem qualquer medida de sarcasmo o que faz parecer que o filme quer que os levemos a sério. O único personagem da equipe que soa como um ser humano ao invés de uma caricatura é Laerte (Marcelo Valle), executivo pragmático que não cai na conversa fiada de Eike.
Já o Dr. Oil (Xando Graça) é tratado por todos como uma sumidade na prospecção de petróleo, mas ao longo do filme ele erra todas as previsões, com o texto falhando em fazer qualquer esforço para entender se o sujeito realmente cometeu um erro honesto, se é um picareta ou se ele não tinha os dados corretos. Pelo modo como o filme trata essa questão da improdutividade a empresa, tudo faz parecer que os erros ou os dados problemáticos foram fruto somente da ação do Dr. Oil, dando a entender que Eike não é exatamente culpado. Esse olhar superficial se estende pela produção inteira, que se limita a narrar os eventos que aconteceram, sem buscar entender o que move essas pessoas. Eike é retratado meramente como um sujeito que deseja dinheiro e poder acima de tudo, mas tirando breves vislumbres de sua infância sabemos muito pouco acerca do que move ele.
Alguns momentos da vida de Eike mostrados no filme chegam a ser inconsequentes para a trama principal da ascensão e queda da OGX. O melhor exemplo dele é o momento de introspecção de Eike no qual toda a relação dele com Luma de Oliveira (Carol Castro) é narrada (mais uma vez o excesso de exposição) como um grande teatro. Todo o segmento é desconectado do restante da trama, já que na época em que o filme se passa Eike e Luma já não estavam mais juntos e todo o segmento não tem qualquer repercussão no restante do filme, que não volta a explorar em momento algum a vida afetiva de Eike ou a relação dele com os dois filhos com Luma (que nem aparecem no filme). A impressão é que toda a cena só foi inserida por ser o elemento da vida do protagonista que é mais conhecido pelo grande público e a escolha de algo mais surrealista foi para dar um ar mais moderno e experimental, sendo que não faz qualquer diferença. A cena inteira poderia ter ficado na sala de edição.
A narrativa ainda insere a subtrama de um sujeito de classe média alta que investe na empresa de Eike. Imagino que a ideia é nos fazer entender o dano que o empreendimento enganoso teve nas pessoas que investiram, só que todo o arco não funciona. Primeiro porque qualquer pessoa que saiba a história real já pode prever que o sujeito irá perder tudo, então todas as cenas em que ele e a esposa soam exageradamente empolgados com o prospecto de ganhar muito dinheiro investindo na OGX soa como uma óbvia prefiguração da derrocada que virá. Não ajuda que o sujeito repita uma série de clichês batidos sobre empreendedorismo, privatização e mercado de investimentos, o que faz o personagem soar como um babaca completo ao invés de alguém digno de nossa empatia. Qualquer tentativa de debater esses temas falha em produzir qualquer reflexão no público por se apoiar em platitudes e lugares comuns superficiais.
Essa falta de conexão e impacto emocional se verifica também na jornada do próprio Eike. Quando os sócios interpretados por Juliana Alves e Bukassa Kabengele abandonam a empresa de Eike, isso deveria ser um momento de derrota e decepção para o personagem, porém como o filme não fez qualquer esforço de construir um vínculo entre esses personagens, o evento não tem impacto algum. O mesmo pode ser dito da cena final. Mostrando Eike na cadeia ao som da canção Aquarela do Brasil, o momento parece querer construir um comentário jocoso sobre a malandragem brasileira e como Eike, sempre tentando levar a melhor, incorpora essa malandragem e sofre as consequências por ela. A questão é até aqui a ironia e o sarcasmo foram pouco presentes no modo como o filme olha a trajetória de Eike, então esse final não surte o impacto que deveria.
Eike: Tudo ou Nada falha em nos oferecer qualquer entendimento
sobre que é seu biografado, se limitando a narrar superficialmente os fatos com
uma narrativa excessivamente episódica e unidimensional.
Nota: 2/10
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