quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Crítica – God of War Ragnarok

 

Análise Crítica – God of War Ragnarok

Lançado em 2018 God of War era um excelente reboot que reinventava tanto o gameplay quanto os personagens da franquia de ação do Playstation. Kratos finalmente era um personagem tridimensional, com motivações complexas, sentimentos ambíguos e uma intensa jornada emocional. Quatro anos depois voltamos para concluir a jornada de Kratos pela mitologia nórdica neste God of War Ragnarok, que melhora praticamente todos os aspectos em relação ao original.

A trama se passa dois anos depois do primeiro jogo. O Fimbulwinter toma Midgard, Kratos tenta treinar Atreus para sobreviver sozinho, temendo que a profecia de sua morte se concretize. Já Atreus tenta de qualquer maneira encontrar uma solução para a profecia de morte, o que coloca os dois na mira de Odin e Thor, iniciando um novo conflito com o panteão nórdico.

Se no jogo anterior Kratos lidava com o luto e com a dificuldade em ser pai quando ele não sabia como transmitir afeto, aqui Kratos questiona sua própria natureza. Afinal, será que ele não pode ser mais nada além de um instrumento de vingança? O ódio e violência são tudo que ele tem? A segunda questão para o personagem é sua relação com Atreus, especificamente como preparar o filho para ser uma pessoa autônoma e não cometer os mesmos erros que ele. São temas que a trama lida com o mesmo cuidado e sutileza que o game anterior, dando aos momentos de calma e silêncio, quando esses personagens simplesmente dividem a companhia um do outro, tanto peso quanto os momentos de ação.

Nesse sentido, Odin é um ótimo antagonista porque representa uma perspectiva diametralmente oposta a Kratos em termos de paternidade. Se Kratos quer ser melhor para poder criar o filho para ser melhor do que ele fora um dia, Odin não enxerga Thor ou qualquer outro de seus filhos como indivíduos autônomos, mas como instrumentos de sua vontade, mantendo-os em um tóxico ciclo de opressão e necessidade de aprovação. Essa dinâmica ajuda a dar profundidade aos antagonistas, já que Thor não é uma mera parede de carne em nosso caminho e sim um indivíduo machucado, que não consegue se ver como nada além de um instrumento de morte, um sentimento que Kratos entende muito bem.

Para além do núcleo principal, a narrativa também dá espaço para desenvolver seu elenco coadjuvante, sejam algumas pessoas que encontramos ao longo da jornada, sejam companheiros que seguem os protagonistas mais de perto. Sabemos mais sobre Freya, sua complicada relação com Odin, com Baldur e com as antigas valquírias. Do mesmo modo, os anões Brok e Sindri deixam de ser meros alívios cômicos e tem suas próprias tramas, com uma reviravolta levando Sindri por caminhos que são de cortar o coração.

A progressão se divide entre segmentos mais lineares da narrativa principal e áreas abertas para exploração com várias missões secundárias, materiais e equipamentos a coletar. Nesse sentido, o jogo oferece mais abertura que o antecessor, com espaços maiores e mais atividades a fazer, levando cerca de 50 horas para terminar o jogo com tudo feito. As missões secundárias são beneficiadas por narrativas que expandem nosso entendimento daquele universo e dos personagens. Uma missão em Svartalfheim revela os pecados do passado de Mimir e como ele enganou os anões sob ordens de Odin. Em Vanaheim uma série de missões em um antigo campo de batalha me fez descobrir um lado de Fey, a falecida esposa de Kratos e mãe de Atreus, que não conhecíamos e que mostra que ela tinha mais em comum com Kratos do que imaginávamos.

O combate amplia o que foi feito no game anterior, com novas armas, habilidades e um ritmo mais ágil, mas ainda mantendo a movimentação deliberada, o cuidado em esquivar e defender, bem como o perigo de sair atacando sem pensar. É como se fosse uma mistura entre a velocidade da trilogia original e o combate mais estratégico do game anterior. A quantidade de ferramentas, a variedade de inimigos e até mesmo os diferentes aliados garantem que o combate seja sempre empolgante e que nos sintamos poderosos no controle de Kratos. As batalhas contra chefes são particularmente desafiadoras e transmitem a sensação de que realmente estamos em um embate épico entre seres de poder divino, com destaque para a batalha inicial contra Thor ou o confronto contra Nidhogg em Vanaheim.

O sistema de progressão de equipamentos se torna relativamente mais simples do que no game anterior, embora continue dando muita liberdade para o jogador explorar diferentes possibilidades de builds, oferecendo vários caminhos de customização. A mecânica de acompanhar os personagens como se tudo fosse um único plano-sequência, sem cortes, segue sendo usada aqui e de maneira mais inventiva que o primeiro jogo, com várias transições elegantes entre diferentes personagens e espaços que nos mantem na ilusão de uma tomada contínua.

Cheio de fúria e de drama God of War Ragnarok é superior a seu antecessor em todos os aspectos, entregando um desfecho intenso e emocionante para a jornada de Kratos no universo da mitologia nórdica.

 

Nota: 10/10


Trailer

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