quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Crítica – Chained Echoes

 

Análise Crítica – Chained Echoes

Review Crítica – Chained Echoes
Desenvolvido ao longo de sete anos pelo alemão Matthias Linda, Chained Echoes me chamou atenção pelo modo como evocava antigos RPGs japoneses da era 16 e 32 bits como Final Fantasy VI, Chrono Trigger e Xenogears. O resultado é algo próximo de como a gente se lembra que esses jogos eram, sem os problemas de um certo design de gameplay ou visuais que hoje consideraríamos datados.

A narrativa se passa em um continente com três reinos à beira da guerra. No meio disso está Glenn um mercenário traumatizado pela guerra que tenta impedir que os reinos usem uma poderosa arma chamada Grand Grimoire capaz de dizimar áreas inteiras. Ao longo da jornada Glenn encontra diversos companheiros e desvendará intrigas entre os reinos. É uma narrativa que fala sobre os horrores da guerra, da corrupção do poder e que faz isso com certa maturidade, sem se furtar de questões mais sombrias.

O combate é estruturado em turnos. Ao invés de uma barra de tempos, temos ícones que mostram a ordem de ação em cada turno, como em Final Fantasy X. É possível mudar os personagens que estão em batalha pelos que estão na reserva sem perder o turno do combatente trocado, o que dá mais agilidade e permite mais combinações estratégicas. A novidade no combate fica por conta da mecânica do Overdrive, uma barra que fica no topo da tela cujo cursor sobe ou desce dependendo das habilidades usadas. Manter o cursor na região verde da barra deixa os personagens em Overdrive, fazendo as habilidades custarem menos TP além de aumentar o ataque e defesa de todos. Se a barra for ultrapassada e o cursor entrar na região vermelha todos entram em Overheat, diminuindo ataque e defesa, além de aumentar os custos de TP das habilidades.

Saber manejar a barra de Overdrive é, portanto essencial para o sucesso das batalhas. Como os inimigos são visíveis no mapa (não há encontros aleatórios) e os personagens recarregam seu HP e TP ao final das batalhas, cada combate é desenhado para ser significativo e desafiar a habilidade do jogador a explorar os poderes de cada personagem. Há também a barra de Ultra Move que enche a cada ação e quando preenchida é possível usar uma ação poderosa com um de seus personagens, sendo similar aos Limit Breaks de Final Fantasy.

Tudo isso consegue manter o combate envolvente mesmo na ausência de uma mecânica tradicional de níveis de personagem. Ao invés disso o game adota uma progressão similar à de Chrono Cross na qual estrelas são ganhas ao vencer inimigos poderosos como chefões na trama principal ou em missões secundárias, com essas estrelas rendendo novas habilidades ou incrementos de atributos. O combate, no entanto, não deixa de render recompensas, seja na forma de materiais para melhorar equipamentos, seja nos pontos de habilidade que servem para melhorar as habilidades ativas ou passivas de cada personagem.

O combate ainda tem certa medida de variedade a partir do momento que o jogador ganha acesso às Sky Armors, basicamente robôs gigantes similares aos que encontramos em Xenogears que mudam tanto o combate quanto a exploração. As Sky Armors tem suas próprias mecânicas de combate e trazem outra camada estratégica ao jogo.

Considerando que foi feito por apenas uma pessoa, o game impressiona pela beleza de sua pixel art, que cria espaços e personagens cheios de personalidade, com cada bioma visitado ao longo do game oferecendo locações memoráveis. A música composta por Eddie Marianukroh (é a única coisa no jogo que não foi feita por Linda) evoca o senso de aventura e descobrimento que normalmente associamos a produções do gênero, embora também encontre temas emotivos para os momentos mais calmos. É um game relativamente longo para um RPG indie, podendo chegar a mais de 50 horas se você quiser completar tudo e mesmo a campanha principal dura cerca de 30 horas.

Como muitos RPGs japoneses, porém, o jogo sofre com subidas abruptas de dificuldade, apresentando algumas batalhas contra chefes que parecem estar muito acima da capacidade dos personagens no momento em que se encontram. Outro problema é que o diário no menu se restringe a mostrar missões e o bestiário de inimigos, sem qualquer opção para retornarmos a tutoriais passados sobre determinadas mecânicas ou a termos da mitologia daquele universo.

São logicamente problemas menores que não tiram o brilho do resultado final. Apesar de se assumir como uma homenagem, Chained Echoes consegue forjar uma personalidade própria, com mecânicas envolventes e um universo marcante, resultando em um dos melhores RPGs dos últimos anos.

 

Nota: 9/10


Trailer


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