É um filme que se presta a um passeio onírico pela subjetividade de seu protagonista (e que emula a subjetividade de seu realizador), nos deixando imersos em seu fluxo de consciência e no sentimento dele em relação ao mundo que o cerca. É indubitavelmente ensimesmado, mas a condução de Iñarritu de fato nos faz sentir em muitos momentos como se estivéssemos presenciando um passeio por sonhos. Encontramos muitas imagens interessantes, como a cena em que Silverio encolhe ao tamanho de uma criança ao conversar com o pai ou o surreal segmento do protagonista discutindo com um oficial da imigração ao retornar aos EUA com a família.
O problema é que além desses momentos de subjetividade e surrealismo, o filme também se entrega a longas tiradas verborrágicas em que Silverio conversa com outros personagens discursando longamente sobre suas inquietações. Nesses discursos o texto mastiga de maneira muito explícita as ideias que o filme tenta transmitir sem a sutileza e o encantamento dos momentos de maior fabulação. A impressão é que Iñarritu poderia aparecer em cena e falar diretamente para o espectador que não faria diferença, quebrando a imersão que a obra tenta construir ao redor da subjetividade de seu personagem.
Esse expediente também soa incomodamente condescendente, como se o diretor achasse que seu filme é tão esperto que a inteligência do espectador seria incapaz de alcançar e então ele precisa discursar o tempo todo para que nós, pobres mortais, consigamos entender sua mensagem. É como se Iñarritu simultaneamente se considerasse extremamente inteligente e nós muitos burros numa empáfia que não apenas diminui a força das suas imagens mais criativas e torna sua narrativa desnecessariamente longa e redundante.
Havia potencial para um
envolvente passeio através de subjetividade e memória em Bardo se o filme não sentisse a necessidade de discursar sobre suas
próprias ideias de maneiras tão literais em muitos momentos.
Nota: 5/10
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