A trama se passa no período da Guerra Civil dos Estados Unidos, sendo levemente baseada na história real de um escravo que fugiu do cativeiro através de um pântano até cruzar a fronteira para o norte e chegar ao acampamento de Baton Rouge, lá as fotos de suas costas cheias de marcas da tortura rodaram o mundo. No filme, Peter (Will Smith) escapa da propriedade na qual está cativo e, liderando outros escravos, tenta fugir para o norte sob a promessa de que lá terá a liberdade que almeja.
Inicialmente, ao mostrar o cotidiano de Peter na fazenda, com toda violência e preconceito que a população negra é submetida, a ideia parece ser discutir como esses preconceitos nunca foram passados à limpo e condutas do século XIX continuam a impactar o século XXI. Digo parece porque uma vez que Peter inicia sua fuga pelo pântano o filme se mostra mais focado na ação, como um thriller de sobrevivência, do que em ponderar sobre qualquer um desses temas.
Em um dado momento um jacaré salta das águas subitamente e devora um dos companheiros de fuga de Peter em algo que mais parece um jumpscare de filme slasher B do que em um drama sério sobre escravidão. Em outro Peter se engaja em uma luta de faca contra um jacaré debaixo da água e é tudo tão exagerado que parece pertencer a um filme completamente diferente. Não ajuda que a cena em questão seja completamente borrada e quase incompreensível pelo contraste da fotografia em preto e branco com o movimento da água.
Não que a decisão de usar preto e branco com alguns vislumbres de cor prejudique o filme como um todo, é algo mais localizado nessa cena específica. No geral a escolha dá um ar fantasmagórico e opressivo aos pântanos da Louisiana, bem como o duro cotidiano de trabalhos forçados dos escravos. A questão, como disse antes, é que essa escolha de retratar de maneira seca o cotidiano de violência entra em conflito com o retrato espetacularizado e hiperbólico da fuga através do pântano.
Os conflitos tonais e temáticos são exacerbados no trecho final. Quando achamos que o filme vai terminar ao mostrar a chega de Peter a Baton Rouge o filme insiste em não acabar e decide basicamente se transformar em Tempo de Glória (1989) conforme acompanha o protagonista se alistando no exército do norte e combatendo na Guerra Civil. Que Peter se torne rapidamente um herói de guerra celebrado pelos companheiros nega toda a premissa inicial de como os EUA ainda não superaram as consequências do racismo. Mais que isso, faz parecer que o racismo era algo localizado em uma parte específica do país e não algo pervasivo a toda sociedade.
Mesmo ignorando as contradições temáticas, esse segmento final não tem absolutamente nada a acrescentar à jornada de Peter ou a discussão sobre os horrores da escravidão. Parece só um pretexto para que o filme insira algumas cenas de ação descartáveis, mas se o filme cortasse do momento em que ele se alista em Baton Rouge para a cena dele resgatando a família não faria qualquer diferença.
Will Smith entrega uma performance discreta como Peter, um sujeito que aprendeu a não externar seu sentimentos, mas que exprime sua natureza resoluta no olhar e no modo direto como fala. Ben Foster, por sua vez, traz uma presença intimidadora e implacável ao fazendeiro que caça Peter com um relativo prazer sádico. Por outro lado, Charmaine Bingwa acaba tendo muito pouco o que fazer como a esposa de Peter, se limitando a esperar pelo marido e dar alguns diálogos expositivos.
Inicialmente retratando a
brutalidade da escravidão, Emancipation:
Uma História de Liberdade logo se perde em uma trama que atira em várias
direções ao mesmo tempo sem conseguir conciliar essas mudanças tonais.
Nota: 5/10
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