A trama segue alguns eventos da primeira temporada, com Keyla (Gabriela Medvedovski) tentando emplacar sua carreira de cantora, Benê (Daphne Bozaski) navegando sua relação com Nem (Thalles Cabral). Por sua vez Tina (Ana Hikari) está terminando um ciclo de terapia e tentando se reconstruir, enquanto Ellen (Heslaine Vieira) navega por um emprego no setor de tecnologia percebendo que mesmo softwares tem viés racial. Lica (Manoela Aliperti) continua sua jornada como redatora ao mesmo tempo em que lida com a súbita partida de Samantha (Giovanna Grigio).
Como na primeira temporada, muito da força da série vem do afeto genuíno que essas personagens exibem uma pela outra e o modo como elas se conhecem bem o suficiente para perceber os problemas uma da outra sem que precisem falar nada. Isso fica evidente na maneira como Keyla percebe que Tina está regredindo a vícios de outrora durante os últimos episódios da temporada ou como Lica e Nem sabem os lugares que Benê costuma ir em momentos de crise.
A trama continua acertando em captar um certo senso de urgência da juventude atual, que se comporta como se suas vidas estivessem em atraso e precisassem compensar algum progresso que acreditam terem deixado de fazer. Um sentimento que vem muitas vezes da própria imaturidade da juventude e da impressão de que a vida é um caminho linear quando na realidade as coisas não são tão simples. Nesse sentido, as tramas permitem ver o progresso dessas personagens ao mesmo tempo em que torna evidente que elas ainda tem um longo caminho a seguir.
Isso é visível no arco de Benê, cujo conforto com Nem mostra o quanto ela se abriu para o mundo embora os problemas que surgem ao longo da relação evidenciam a dificuldade dela em lidar com mudanças radicais em sua vida. De maneira semelhante o modo como Lica lida com a partida de Samantha mostra um certo grau de amadurecimento afetivo, assim como a relação com Maura (Tamyris O’Hanna) abre sua visão de mundo, mas ela ainda regride instintivamente a sua conduta imatura em situações de crise, como seu acesso de ciúmes envolvendo uma descoberta sobre Maura e Ellen.
Como fazia desde MVAD, os arcos das personagens também servem para pensar questões de inclusão, diversidade e respeito às diferenças. O arco de Ellen, além de ressaltar as dificuldades e senso de isolamento de uma mulher negra em um ambiente corporativo dominado por brancos também serve para ponderar sobre racismo algorítmico e como as tecnologias que dominam a sociabilidade online estão longe de serem neutras. A introdução de Glauber (Elzio Vieira), funcionário do restaurante do pai de Tina, serve para construir um personagem evangélico que foge dos clichês de representação dessa categoria na ficção, com a fala de Glauber sobre entender a luta de Tina com vício dando a entender que ele também lida (ou lidou) com um comportamento adicto. O namorado de Keyla, cuja intolerância e homofobia foram expostas na temporada anterior, dá sinais de maturidade e aprendizado não apenas em relação a seus preconceitos como também no sentido de estar mais presente e dar apoio à namorada, embora todo seu discurso “startupeiro” ainda cause problemas como a operação com ações ao fim da temporada.
Se a temporada anterior brincava um pouco com os formatos e estruturas narrativas dos episódios, o mesmo não acontece nesse segundo ano. Na verdade, alguns episódios chegam a exibir situações cuja construção não é lá muito convincente, como a maneira que a narrativa faz várias personagens e conflitos convergirem na casa de praia de Lica (e que soa muito parecido com o episódio da casa de praia de Girls). Do mesmo modo, os excêntricos assaltantes que aparecem no episódio final parecem saídos de uma série completamente diferente e destoam do realismo urbano que a produção exibe.
Ainda assim, As Five continua entregando um envolvente estudo de personagem,
elevado pela química do elenco principal, que analisa as agruras da entrada na
vida adulta, a necessidade de amadurecer e pondera sobre a diversidade da nossa
sociedade.
Nota: 8/10
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