quarta-feira, 29 de março de 2023

Crítica – Cidade Invisível: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – Cidade Invisível: 2ª Temporada

Review – Cidade Invisível: 2ª Temporada
A primeira temporada de Cidade Invisível surpreendeu ao misturar uma trama investigativa com elementos sobrenaturais das mitologias nativo-brasileiras. Esta segunda temporada, porém, derrapa em uma trama que demora de engrenar e acaba de maneira muito abrupta, quase como se fosse um capítulo de transição ou uma preparação para um conflito que ainda vai ocorrer do que uma narrativa com começo meio e fim.

Depois dos eventos do primeiro ano, Luna (Manu Dieguez), a filha de Eric (Marco Pigossi), vai com Inês (Alessandra Negrini) ao Pará para tentar trazê-lo de volta. A garota acaba fazendo um acordo com a Matinta Perê (Letícia Spiller) para trazer seu pai de volta. Eric retorna, mas a entidade cobra seu preço a Luna e agora Eric precisa encontrá-la. No meio do caminho, o protagonista encontra um esquema para usar o poder das entidades para alcançar o Marangatu, um lugar espiritual cujos fazendeiros da região creem encontrar muitas riquezas.

O primeiro problema é que a busca de Eric pela filha e toda a trama de invasão das terras indígenas e corrupção de agentes públicos demora a se encontrar e durante boa parte dos cinco episódios elas soam como duas séries distintas. Por conta da mudança de cenário e de vários personagens, a série gasta um bom tempo em diálogos expositivos que tentam explicar a situação e fazem tudo soar arrastado. Quando parece que a narrativa vai finalmente engrenar, a temporada acaba sem fornecer respostas satisfatórias a respeito do retorno de Eric, o motivo dele conseguir absorver os poderes de outras entidades ou quais os planos da Matinta. Tudo isso é jogado para uma possível segunda temporada, deixando a impressão de que está foi só um capítulo introdutório. Sim, a temporada resolve o arco dos fazendeiros tentando dominar as terras indígenas em busca do Marangatu, mas essa era uma trama secundária.

Incomoda também a mudança que a série dá em relação a essas entidades. Se na primeira temporada esses seres fantásticos eram criaturas abandonadas, raivosas e amarguradas com uma humanidade que os maltrata e os esqueceu (algo que até remetia a Deuses Americanos), aqui lobisomens ou mulas-sem-cabeça não são tratados como entidades poderosas sofrendo com o descaso e sim concebidos como pessoas amaldiçoadas. A ideia dessas entidades se originarem de maldições, ou seja coisas inerentemente malignas, é uma noção diametralmente oposta às intenções da série de respeitar as mitologias brasileiras e lhes dar uma representação que escape dos clichês e do “pânico satânico” com os quais elas normalmente são apresentadas. Ao nos dizer que são maldições, a narrativa apenas reforça os preconceitos envolvendo entidades nativo e afro-brasileiras de que são forças demoníacas e sombrias a serem temidas e evitadas.

O elenco, por outro lado, é bastante esforçado em nos convencer desse universo sobrenatural no qual entidades com intenções misteriosas guiam a conduta das pessoas e os eventos ao seu redor. O destaque fica por conta de Letícia Spiller, que traz um ar de mistério e ambiguidade à Matinta Perê, uma criatura que soa insondável, cujos planos parecem estar além do raciocínio humano. Simone Spoladore nos apresenta a uma promotora devorada pela culpa de permitir e se deixar controlar pelas forças que tentam encontrar o Marangatu, nos fazendo sentir o peso do dever não cumprido que paira sobre ela e o impacto emocional de não ser capaz de seguir suas convicções morais.

É uma pena que essas atuações não sejam o suficiente para impedir que Cidade Invisível entregue uma segunda temporada com tramas bagunçadas, insatisfatórias e que por vezes entra em contradição com a proposta da série.

 

Nota: 4/10


Trailer

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