Dirigido por Sarah Polley e adaptado de um romance escrito por Miriam Toews, Entre Mulheres traz questionamentos sobre como as estruturas da sociedade (e particularmente religiosas) trabalham para manter as mulheres sob controle e como é difícil para as mulheres romperem com essas estruturas.
A trama se passa em 2010, em uma colônia menonita no Canadá. Depois de inúmeros incidentes em que mulheres da vila acordam com sinais de abuso, elas finalmente conseguem provar que os homens do local as estavam dopando e abusando sexualmente. A narrativa então acompanha os dois dias de deliberações com as mulheres da colônia debatendo o que deveriam fazer, se enfrentar os homens, se fugir ou perdoar os homens e manter as coisas funcionando.
Considerando que são mulheres que vivem sob uma radical estrutura religiosa (e a autora Miriam Toews foi criada em uma colônia menonita) a ideia de que se rebelar contra a violência sofrida nas mãos dos homens constituiria algum tipo de pecado contra a ordem divina e condenaria elas ao inferno é um dos pontos de debate. Isso serve para mostrar como a religião é usada para dominar as mentes e impor uma ordem social tacanha e excludente, bem como a dificuldade em romper com essa programação cerebral uma vez que ela foi cultivada na cabeça de alguém durante a vida inteira.
O texto não foge das consequências físicas e psicológicas que se impõem sobre aquelas mulheres e os abusos sofridos, no entanto nunca restringe suas personagens a meras vítimas. Ao longo da projeção vemos essas mulheres sofrerem, externarem sua raiva e também encontrarem alegria em suas interações. O olhar de Sarah Polley parece interessado em simplesmente acompanhar o que essas mulheres tem a dizer uma para outra conforme elas experimentam um grau de liberdade que até então não tinham. Muito dessa ampla gama de emoções se sustenta pela qualidade do elenco formado por nomes como Frances McDormand, Rooney Mara, Claire Foy ou Jesse Buckley, com cada uma delas em sua própria jornada para lidar com o que sofreram.
Não deixa de ser curioso, porém, que diante dessa ampla gama de pensamentos e experiências femininas, Polley tenha optado por um visual tão monocromático, sempre com tons de preto e cinza. Sim, eu sei que menonitas não tem lá muito senso de moda ou design de interiores e que realisticamente tudo seria meio que cinzento e dessaturado, mas estamos diante de uma produção que se debruça sobre a subjetividade e experiências sensíveis de suas personagens, então era de se imaginar que visualmente o filme desse conta dessa subjetividade. Polley, por sinal, fez isso muito bem no excelente e pouco visto Histórias que Contamos (2012). A maneira como Polley conta sua história aqui soa convencional e quadrada demais para algo cuja força reside mais na dimensão subjetiva.
Ainda assim, o material entende a complexidade da conversa proposta aqui e caminha com maturidade pela discussão empreendida pelas personagens evitando maniqueísmos fáceis e levantando perguntas cuja resposta não é simples de ser alcançada. Por outro lado a estrutura narrativa, toda contida na deliberação, acaba por vezes soando excessivamente expositiva e didática, quase como se estivéssemos diante de uma mesa redonda e não de um produto ficcional, o que acaba tornando o filme um pouco cansativo apesar da curta duração.
Entre Mulheres propõe discussões complexas sobre religião,
sociedade e opressão de gênero sustentada por um elenco que consegue dar
múltiplas facetas as suas personagens e por um texto que apresenta perguntas
complexas, ainda que sua construção visual não consiga dar conta da construção
subjetiva das experiências representadas.
Nota: 7/10
Trailer
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