Já em seus primeiros minutos a narração de Adrien Brody deixa claro que a trama está ciente dos clichês do gênero e decide se divertir com eles, apontando as conveniências das complicações barrocas que normalmente envolvem essas tramas criminais clássicas. O humor também está presente nos personagens, dos pitorescos suspeitos ao aparvalhado detetive vivido por Sam Rockwell passando pela novata ingênua, mas arguta, interpretada por Saoirse Ronan. Esse plantel de figuras insólitas consegue envolver mesmo quando o mistério em si não tem nada que já não tenhamos visto antes.
O filme adere o tempo todo aos lugares comuns dessas tramas e ainda que tente extrair humor dessas observações sobre clichês, o texto faz poucos para efetivamente subvertê-los ao ponto que toda a autoconsciência passa a soar mais como uma desculpa para arriscar pouco do que uma tentativa de fazer algo novo. É só no final que o texto demonstra ter algo a dizer, surpreendendo com um comentário a respeito de como essas narrativas se inspiram em crimes reais, que afetaram e traumatizaram muitas pessoas, apenas para transformar esses traumas e problemas sociais em espetáculo, em entretenimento para as massas.
É uma discussão que tem ganhado força nos últimos anos com serviços de streaming cada vez mais fazendo série sobre crimes reais e que nos faz pensar em até que ponto essas narrativas trazem algo para a discussão sobre os problemas da nossa sociedade ou nos alienam deles. Considerando o viés mais humorístico da trama confesso que não esperava que o desfecho trouxesse alguma crítica mais contundente ao gênero, mas é o que acaba lhe dando algo de verdadeiramente memorável.
Com personagens excêntricos e um
desfecho que pondera sobre os limites éticos das narrativas investigativas, Veja Como Eles Corram consegue oferecer
uma trama policial minimamente interessante, ainda que passe boa parte do tempo
repetindo os lugares-comuns do gênero.
Nota: 6/10
Trailer
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