Lixo Extraordinário – Assalto Aéreo

 

Lançado em plataformas digitais durante o auge da pandemia, Assalto Aéreo rapidamente se espalhou em comentários pela internet sobre o quanto ele era ruim. Parecia o tipo de podreira tosca que todos precisavam naquele momento em que não sabíamos como seriam nossas vidas nos meses subsequentes, com o filme se transformando em piada nos meios de cinefilia. Tendo finalmente assistido, consigo atestar que de fato é muito ruim, mas lamentavelmente não é aquele tipo de produção que se torna divertida por ser ruim.

A narrativa é protagonizada por Jack (Adam “Edge” Copeland), um ladrão que está em dívida com o poderoso Darius “The Rumble” Emanuel Grouch III (Kelsey Grammer) que propõe a Jack uma perigosa missão para compensar a dívida. Jack deve se infiltrar no “avião da fortuna”, uma aeronave que funciona como um cassino aéreo fornecendo todo tipo de jogos ou apostas ilegais para os mais ricos do submundo do crime, e roubar bilhões em criptomoedas armazenadas nos servidores do avião.

De cara a premissa já soa estúpida. Porque seria preciso de um avião para jogo ilegal? Isso não poderia ser feito em terra? Afinal mesmo em espaço aéreo internacional a aeronave opera sob as leis do país em que está registrado, não havendo qualquer benefício de estar em um avião. Além disso, porque armazenar criptomoedas em um servidor físico na aeronave? Todo o mote de criptomoedas não é justamente o fato de não ter uma localização física e não ser tão fácil de extrair? A impressão é que os roteiristas não pararam para pesquisar o mínimo sobre o funcionamento de criptomoedas ou segurança digital.

Ter uma premissa estúpida, no entanto, não seria um impeditivo para o filme ser divertido se ao menos pudesse fazer algo interessante com sua premissa ou personagens, mas não é o caso. O tal “avião da fortuna” nunca evoca a opulência, o excesso e o hedonismo que se esperaria de um espaço feito para estimular os vícios dos mais ricos e mais sem escrúpulos. Durante boa parte do tempo os personagens simplesmente ficam vagando pelos espaços sem que aconteça muita coisa. Quando finalmente chegamos às apostas, não é nada que choque ou surpreenda o quanto deveria.

Os personagens simplesmente apostam de maneira vaga em algumas lutas envolvendo pessoas ou animais que não são plenamente explicadas. Em um dado momento Darius diz para Jack “você quer apostar em um homem transando com um jacaré? O avião da fortuna é o lugar”. É uma frase que deveria soar impactante, o problema é que não faz sentido. O que seria exatamente essa aposta? Isso quando os personagens não estão envolvidos em jogos que poderiam ser feitos legalmente, como pôquer.

Ao escalar alguém como o lutador de luta-livre Edge, era de se imaginar que o filme fosse oferecer cenas de luta que explorassem as habilidades de seu protagonista, mas a narrativa mantém Jack confinado em pequenos espaços no avião e sua única luta acontece no apertado cockpit da aeronave, não dando muito para o lutador fazer. O roteiro tenta conceber Jack como um ladrão experiente, sempre preparado para imprevistos, no entanto, o desenvolvimento da trama o faz parecer um idiota que não atenta para coisas óbvias, tipo o fato de um avião ter um copiloto. O protagonista também falha em exibir qualquer carisma, com boa parte das cenas mostrando Edge com olhos esbugalhados e uma expressão perdida, como se não soubesse o que está acontecendo.

Todo o roubo ocorre muito rápido e de maneira tão fácil. Uma das aliadas de Jack facilmente acessa o cofre e outro rapidamente hackeia o servidor para enviar os dados para outro colega no solo. É tudo tão livre de dificuldade que nunca convence ser esse lugar controlado pelas pessoas mais perigosas do mundo crime. O único obstáculo são alguns seguranças que Isabella (Katrina Norman) mata sem esforço porque eles ficam parados enquanto ela os golpeia no que deve ser algumas das piores cenas de luta dos últimos anos.

O único módico de diversão vem nas cenas com Darius, já que Kelsey Grammer entrega uma atuação tão exagerada, tão maníaca, tão sem freio e entregue a excessos que é surpreendente que ele não tenha engolido todo o cenário a sua volta. Mesmo nas cenas em que ele conversa com Jack via videoconferência (e são a maioria) Grammer está sempre hiperbólico de um jeito que é impossível não rir. Desde Tim Curry em Command & Conquer: Red Alert 3 não vemos um ator tão conceituado entregar uma performance tão exagerada e absurdamente hilária diante de uma webcam. Falando em atores conhecidos, o filme também traz Denise Richards e Thomas Jane em pontas bem esquecíveis.

Com uma trama estúpida e sem sentido, personagens sem carisma, cenas de ação ruins e uma total inabilidade para criar qualquer senso de tensão, Assalto Aéreo só evita o completo tédio por conta do comprometimento do Kelsey Grammer em devorar o cenário.

Trailer