A trama acompanha o detetive da polícia federal Alfredo Díaz (Luis Luque), um policial durão que está com dificuldades de continuar com o trabalho depois de descobrir que foi traído pela mulher. Para ajudar Díaz, a corporação traz o terapeuta Mariano (Diego Peretti), que acaba acompanhando o policial em uma investigação de duplo homicídio que pode implicar uma conspiração envolvendo as forças armadas argentinas.
Díaz e Mariano estabelecem uma divertida química juntos ao explorarem a oposição entre o abrasivo detetive e o terapeuta certinho que se vê fora de sua zona de conforto em meio a uma investigação de homicídio. A questão da traição, porém, acaba sendo deixada para segundo plano conforme a trama investigativa engrena, o que é uma pena, já que isso poderia explorar questões de masculinidade que esse tipo de filme não costuma abordar.
O mistério principal consegue criar um eficiente clima de suspense, com a ideia de corrupção nas forças armadas, vendendo material perigoso para entidades estrangeiras remetendo diretamente ao passado ditatorial do país, que assim como o Brasil passou por uma violenta ditadura militar estimulada por potências estrangeiras. Diferente de nós, porém, os argentinos puniram os militares responsáveis (algo que pode ser visto no ótimo Argentina, 1985). Nesse sentido, a ideia de que os militares poderiam ser vistos como ameaça ainda no presente, ecoa o sentimento de desconfiança que permanece no país, com as forças armadas ainda sendo tratadas como sinônimo de corrupção e entreguismo. É algo que poderia não funcionar no contexto brasileiro no qual uma parcela da população ainda tem uma visão mitificada das forças armadas e nunca passamos nosso passado ditatorial plenamente à limpo.
A ação é bem conduzida o suficiente para envolver e criar uma sensação de urgência, principalmente nas cenas que envolvem Mariano, já que o fato dele ser um sujeito pacato e sem treinamento formal lidando com forças além de sua capacidade nos deixa naturalmente preocupados com o personagem. Felizmente o texto é coerente com o que foi estabelecido sobre o terapeuta, colocando ele para superar seus adversários através da astúcia, enquanto que Díaz lida mais diretamente com as ameaças.
Ainda que não aproveite todas as
ideias que coloca ao redor de sua dupla principal, Tempo de Valentes é uma divertida comédia de ação que também
reflete sobre o passado político da Argentina.
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