O título usado no Brasil e na América Latina dá a entender que se trata de uma continuação de O Chamado 3 (2017), versão hollywoodiana da franquia de terror japonesa Ringu. Não é o caso. O que está sendo lançado aqui como O Chamado 4: Samara Ressurge é, na verdade, a produção japonesa Sadako DX, um spin-off da franquia Ringu. Por mais que até as legendas chamem a assombração Sadako de Samara, tentando criar uma conexão com os filmes hollywoodianos, e as personagens até tenham suas semelhanças, elas não são a mesma criatura e tem mitologias bem diferentes. Ou seja, trata-se de uma estratégia apelativa para pegar desavisados e se eu entrasse no cinema pagando ingresso achando que assistiria um novo O Chamado apenas para ver algo sem qualquer relação, eu ficaria muito, muito irritado.
A trama é protagonizada por Ayaka (Fuka Koshiba), uma colegial brilhante que resolve investigar o mistério de um vídeo que viralizou na internet e mata as pessoas depois de 24 horas. Essa seria uma nova versão da maldição de Sadako, que saiu das fitas VHS para o reino digital e talvez por isso se tornou mais rápida. Quando a irmã de Ayaka, Futaba (Yuki Yagi), resolve assistir o vídeo e recebe a maldição das 24 horas, Ayaka precisa correr contra o tempo para salvar a irmã.
O filme tenta misturar terror e comédia, mas acaba não acertando em nenhuma das duas coisas. As mortes não trazem qualquer impacto ou temor, o filme se apoia em sustos súbitos previsíveis que não acrescentam nada e a Samara/Sadako simplesmente não funciona porque o filme não consegue decidir se quer que ela funcione como uma ameaça genuína ou como uma paródia, já que ela aparece muitas vezes em situações claramente ridículas. Os personagens feitos para serem cômicos, por sua vez, não tem nada de muito engraçado, como Oji (Kazuma Kawamura), cujas constantes poses de galã são feitas para gerar piadas, mas não tem nada digno de riso, sendo mais irritante do que engraçado.
A ideia da maldição funcionar mais rápido por conta do contexto digital, já que o conteúdo se espalha em uma velocidade maior nas redes poderia funcionar como um comentário sobre relações sociais via internet da mesma forma que Ringu e O Chamado usavam a fita amaldiçoada para pensar na perenidade do conteúdo em um paradigma de reprodutibilidade técnica. O texto, porém, não absolutamente nada de interessante a dizer sobre a tecnofobia que é típica da franquia. Mesmo o desfecho, com os personagens se reunindo para assistir a fita todo dia, poderia refletir sobre como a lógica das redes nos mantém presos a ela, dependentes, mas mesmo esse subtexto se perde na inanição do material.
Além da picaretagem enganosa do título nacional O Chamado 4: Samara Ressurge, falha miseravelmente em reimaginar a sua mitologia em uma trama vazia e uma tentativa ineficiente de misturar terror e comédia, não funcionando em nada. A única maldição que consegue criar é a que faz desaparecer 100 minutos da vida do espectador.
Nota: 1/10
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