terça-feira, 11 de abril de 2023

Crítica – Rye Lane: Um Amor Inesperado

 

Análise Crítica – Rye Lane: Um Amor Inesperado

Review – Rye Lane: Um Amor Inesperado
Em tempos em que qualquer blockbuster ou comédia romântica despretensiosos passam facilmente da marca de duas horas, é um alívio encontrar uma produção que sabe ir direto ao ponto e usa os elementos conhecidos dos gêneros para construir uma economia narrativa que permite trama focar no que é singular de seus personagens ao invés de apenas repetir elementos conhecidos. Bastante celebrado no festival de Sundance, a produção britânica Rye Lane: Um Amor Inesperado, que chega ao Brasil via Star Plus, é uma bela surpresa.

A trama é centrada no casal Dom (David Jonsson) e Yas (Vivian Oparah). Eles se conhecem em uma tarde no sul de Londres quando ambos estão passando por términos ruins, especialmente Dom que é encontrado por Yas chorando em um banheiro. A partir daí eles compartilham um com o outro as recentes desilusões afetivas e aos poucos vão se aproximando conforme conversam ao longo do dia.

É uma estrutura que lembra bastante Antes do Amanhecer (1995), de Richard Linklater, mas mais voltado para a comédia e com um forte senso de excentricidade e um clima idílico. Visualmente, a estética colorida com a predominância de tons pastéis remete a produções conduzidas por Wes Anderson. Com tantas referências marcantes seria fácil tudo descambar para uma colcha de retalhos sem personalidade, mas a diretora Reine Allan-Miller injeta personalidade e carisma suficientes para produzir um todo que é maior do que a soma de suas partes.

A trama nos deixa constantemente imersos na subjetividade dos dois protagonistas conforme os flashbacks nos conduzem pelo passado amoroso sob a ótica pessoal de cada um, nos mostrando não apenas o que aconteceu, mas o que eles pensam que deveriam ter feito ou como eles enxergaram esses eventos. Para conotar que não estamos assistindo a um olhar neutro ou onisciente e sim a uma visão parcial e subjetiva, a diretora recorre constantemente a lentes grandes angulares e lentes olho de peixe para distorcer proporções e contornos, revelando a distorção metafórica da perspectiva daquelas imagens.

Claro, muito do que torna o filme encantador também está na dupla principal, que desenvolvem uma química bem sincera entre Dom e Yas que começa numa espécie de comiseração compartilhada conforme percebem os infortúnios que tem em comum e vai aos poucos se desenvolvendo para algo mais. É logicamente um desdobramento previsível e o filme sabe disso, preferindo não se concentrar no “será que eles vão se apaixonar?” e mais nas situações, locais e personagens insólitos que o casal irá visitar ao longo do dia. David Jonsson e Vivian Oparah tem um ótimo timing cômico e fazem todo o humor excêntrico do filme funcionar muito bem.

Sincera e bem humorada, Rye Lane: Um Amor Diferente encanta pelo senso idílico e pitoresco que instila em seus personagens e situações.

 

Nota: 8/10


Trailer

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