De início a narrativa consegue imprimir um ritmo ágil e uma estética pop conforme ouvimos Henk narrar como conheceu Tetris e o emaranhado jurídico dos direitos do jogo a partir de visuais que emulam a estética 8 bits enquanto introduzem os principais personagens do filme. O que deveria ser basicamente uma história envolvendo longas reuniões e rodadas de negócios consegue criar um senso palpável de suspense ao estabelecer claros riscos para Henk e para o criador do jogo, Alexey Pajitnov (Nikita Efremov). Além disso, a trama consegue deixar claro para o espectador o motivo do fascínio com o game e as razões para ele ser tão viciante, então entendemos bem o valor do que está disputa.
Por outro lado, uma vez que a trama passa a se concentrar nas desventuras de Henk na União Soviética, a força da narrativa começa a perder conforme a narrativa passa a se apoiar em clichês cansados de capitalismo versus comunismo e tenta discutir a queda da União Soviética de maneira bastante simplória. Talvez se a história fosse contada do ponto de vista de Alexey as coisas pudessem soar menos caricatas e as ideias sobre regimes políticos poderiam render mais. Do jeito que está, o olhar para esse período soa como algo saído diretamente da década de 80, sendo que esta é uma produção feita em 2023.
Outra questão é que o filme sente uma necessidade constante de ampliar os riscos ao ponto em que fica evidente que a narrativa abandonou algum compromisso com a realidade para inserir perseguições e outras cenas de ação que certamente nunca aconteceram. Eu sei que algo inspirado em eventos reais sempre toma liberdades para construir drama de uma maneira mais concisa, no entanto aqui isso é feito com tanto exagero que me tira do filme, já que sabemos que executivos da Nintendo não se envolveram em uma explosiva perseguição de carros com espiões da KGB pelas ruas de Moscou. Tudo bem que isoladamente é uma cena divertida e o filme associa os carros passando por espaços apertados com os blocos do jogo, mas no contexto predominantemente realista da produção soa deslocado.
Se conseguimos nos manter envolvidos com a história apesar dos defeitos é por conta do trabalho de Taron Egerton. Por mais que Henk seja um empresário espertalhão tentando passar a perna em seus competidores para faturar alto, Egerton dá a seu protagonista um charme canalha e uma paixão sincera pelo jogo e seu criador para que nos importemos tanto com Henk quanto com Alexey, entendendo que entre os que querem vender Tetris que Henk é aquele que melhor entende o jogo. O carisma de Egerton e a amizade sincera que se constrói entre Henk e Alexey nos mantém investidos mesmo quando a narrativa se torna superficial.
Assim, o grande mérito de Tetris é conseguir tornar envolvente uma
narrativa que não teria nada de muito empolgante, com um ritmo ágil e um
protagonista carismático que fazem tudo funcionar mesmo quando a trama toma
várias liberdades com a história ao ponto de quebrar a imersão.
Nota: 6/10
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