Tudo bem que Damian (Jonathan Majors) é menos unidimensional que o vilão vivido por Mr.T em Rocky 3. Aqui Damian tem uma motivação compreensível para agir da maneira que age, sentindo que tem algo a provar para o mundo, recuperar o tempo que perdeu na prisão e um sentimento de abandono em relação a Adonis (Michael B. Jordan) que se tornou um odioso rancor. Apesar de compreendermos isso, Damian é claramente o vilão da história e esse maniqueísmo fica registrado na luta final entre os dois com Adonis de calção e luvas brancas enquanto Damian está todo de preto, uma versão do boxe para o clichê clássico do “chapéu branco” e “chapéu preto” do faroeste.
A narrativa também tem sua parcela de furos e elementos mal desenvolvidos, em especial a descoberta de que Damian teve envolvimento no ataque que tirou Viktor Drago (Florian Monteanu) de uma luta do título, dando a Damian a vaga que ele almejava. Se Adonis tinha elementos que permitiam comprovar isso, porque não levar isso à publico? Por mais que não fossem evidências suficientes para ele perder o título, certamente fariam um dano enorme à imagem de Damian. No entanto, essas evidências são esquecidas pela trama e ao fim Adonis e Damian até se reaproximam, como se Adonis tivesse esquecido que o antigo amigo cruzou de maneira grave um limite moral.
Ainda assim, Jordan e Majors são bons o suficiente em nos fazer sentir o laço outrora compartilhado entre seus personagens e a amarga rivalidade presente que se forma entre eles. Há uma tensão palpável entre os dois que nos permite sentir como se de fato houvessem anos de ressentimento entre aquelas pessoas. As lutas continuam sendo o ponto alto, em especial como a direção de Michael B. Jordan (em seu primeiro filme com diretor) parece inserir uma certa sensibilidade de anime (Jordan é famoso por ser fã de animes, inclusive baseando o visual do Killmonger de Pantera Negra no Vegeta de Dragon Ball Z) nos combates. A condução das lutas usa muitos planos detalhe para evidenciar o olhar dos lutadores e os espaços vulneráveis do adversário. Câmera lenta e freeze frames ressaltam o poder dos golpes, dando a eles uma qualidade quase que sobrehumana e a luta final deixa o espectador imerso na subjetividade dos dois personagens, mostrando o que aquele conflito representa para eles e como a luta mobiliza sentimentos novos e antigos.
Ainda que tenha uma narrativa bem
esquemática, Creed 3 vale pela
dinâmica que estabelece entre os personagens de Michael B. Jordan e Jonathan
Majors.
Nota: 6/10
Trailer
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