A trama segue no ponto em que a primeira temporada encerrou. Gus (Christian Convery) foi capturado pelos Primeiros Homens liderados por Abbot (Neil Sandilands) e está em cativeiro com Wendy (Naledi Murray) e os outros híbridos que Aimee (Dania Ramirez) cuidava. Enquanto que as crianças tentam encontrar um modo de fugir antes de serem usados como cobaias pelo Dr. Singh (Adeel Akhtar), Aimee e Jeppard (Nonso Anozie) se juntam para encontrar as crianças de quem cuidavam.
Christian Convery segue adorável como Gus, cuja boa vontade, doçura e otimismo seguem encantadores. Sem a proteção de Jeppard, Gus é obrigado a encarar a brutalidade do universo apocalíptico em que vive, perdendo um pouco de sua ingenuidade, mas mantendo em si a bondade apesar de tudo. Já o Dr. Singh segue dividido entre a devoção em curar sua esposa e o comprometimento ético em experimentar com os híbridos conforme se dá conta de que não são meros bichos. Se Gus ainda consegue se manter fiel a quem é, o médico se afunda tanto em sua necessidade de encontrar a cura para justificar seus sacrifícios e condutas imorais que se torna alguém radicalmente diferente. O personagem acaba servindo como exemplo de como boas intenções podem pavimentar o caminho para se tornar uma pessoa horrível.
Abbot, por sua vez, continua sendo o vilão implacável e impiedoso de antes, trazendo um senso de ameaça e urgência que de fato nos faz temer pelos personagens, já que a astúcia e a falta de escrúpulos dele o tornam um oponente imprevisível. Devo dizer, no entanto, que o plano final dele de basicamente construir um grande condomínio fechado soa banal demais para um senhor da guerra apocalíptico. Jeppard e Aimee tem tempo para aprenderem um com o outro e Jeppard reexamina seu passado como caçador de híbridos e pensa em caminhos de se redimir.
O principal problema da atual temporada, porém, acaba sendo a quantidade grande de diferentes núcleos de personagem já que a maioria deles está bem distante um do outro, com cada episódio precisando lidar com pelo menos três núcleos diferentes e algumas tramas, como a de Ursa (Stefania LaVie Owen) demoram a se conectar com o resto. Isso somado a alguns episódios iniciais bastante focados em flashbacks que tentam explicar o passado de Gus, as origens do Flagelo e ampliar a mitologia deste universo acabam fazendo a temporada ter um ritmo truncado. Os primeiros episódios da temporada dão a impressão de que a trama simplesmente não caminha.
Outro problema, que é um elemento já presente na primeira temporada, é a dificuldade de equilibrar o tom mais ingênuo e fabulesco das aventuras de Gus, com a severidade e violência do apocalipse. Como a série parece mirar em um público mais jovem, a narrativa faz boa parte dos eventos brutais da trama acontecer fora de cena, apenas nos informando ou mostrando rapidamente imagens dos mortos. A escolha de nunca apresentar plenamente as consequências do comportamento sangrento dos vilões impede que o peso dessa realidade implacável seja devidamente sentido.
Ao menos o final é eficiente no confronto contra Abbot e no modo como o vilão, mesmo em desvantagem e aparentemente enfraquecido, é uma força que não pode ser subestimada. Há uma emoção genuína no modo como a narrativa encerra tanto o arco de Ursa em busca da irmã perdida quanto o de Aimee em seu esforço de proteger os filhos adotivos.
Assim, a segunda temporada de Sweet Tooth tem carisma e doçura
suficientes em seu protagonista para valer a pena, trazendo elementos que
ampliam o universo narrativo e apontando caminhos para o futuro apesar de seu
ritmo truncado.
Nota: 6/10
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