quarta-feira, 31 de maio de 2023

Lixo Extraordinário – Super Mario Bros (1993)

 

Crítica – Super Mario Bros

Resenha Crítica – Super Mario Bros
A Nintendo conseguiu fazer uma boa adaptação de seus games com a animação Super Mario Bros: O Filme, mas essa não foi a primeira tentativa de levar as aventuras do encanador bigodudo para as telonas. A honra pertence a Super Mario Bros, lançado em 1993 e que ao invés de animação era feito com atores. O resultado foi tão atroz que a Nintendo levou décadas sem querer levar suas propriedades ao cinema até que a recente animação finalmente quebrou a resistência da empresa e fez um grande sucesso.

O filme teve uma produção conturbada, sendo dirigido por um casal (Annabel Jenkel e Rocky Morton) em seu primeiro longa-metragem e que não tinham muita noção do material ou controle da situação. O fracasso retumbante do filme, por sinal, fez que os dois não voltassem a dirigir outro filme em Hollywood. Ao longo dos anos os atores Bob Hoskins e John Leguizamo falaram inúmeras vezes da relação ruim que tinham com os diretores e que para suportar o péssimo ambiente de trabalho bebiam bastante e estavam constantemente bêbados no set. Isso inclusive levou Hoskins a se machucar durante a gravação de uma das cenas de ação.

Na trama, os encanadores Mario (Bob Hoskins) e Luigi (John Leguizamo) acabam atravessando um portal dimensional ao conhecerem a misteriosa Daisy (Samantha Mathis). A jovem seria a governante de outra dimensão onde os humanos não evoluíram de primatas, mas de dinossauros e agora estava sob o comando do perigoso Rei Koopa (Dennis Hopper), que tomou o poder e governa com mão de ferro. Koopa deseja fundir as duas dimensões, mas para isso precisa de um pedaço de meteorito que Daisy carrega consigo. Enquanto isso Mario e Luigi tentam derrubar Koopa e resgatar a família de Daisy.

Na época do lançamento o filme foi muito criticado por não ter praticamente nada a ver com o material original (porque Luigi não tem um bigode?) e, de fato, é uma crítica pertinente, embora nem seja o mais problemático. O que mais incomoda é o quanto toda a aventura é sem graça e sem energia, soando como um produto cínico feito a toque de caixa só para capitalizar em cima de uma propriedade conhecida. É também estranho (e provavelmente parte da razão do público ter detestado) a criação de uma atmosfera tão sombria e sisuda que contrasta com o roteiro claramente direcionado para crianças. Aqui o colorido reino dos cogumelos é transformado em uma espécie de distopia tecnológica que mais parece Blade Runner (1982) do que o game da Nintendo. Pra quem esse filme foi pensado afinal?

Dentro desse ambiente tecnológico, a trama tenta encontrar justificativas “realistas” para elementos do jogo, como o fato de que inimigos como os Goombas ou os Koopas seriam na verdade os humanos dessa dimensão reduzidos a seu estado primitivo de seres repitilianos. Do mesmo modo, os incríveis saltos que Mario e Luigi dão seriam fruto de botas tecnológicas. Os cogumelos que ajudam os irmãos são aqui fungos de visual realista e que por vezes parecem mais fruto de um filme de horror saído da mente do David Cronenberg. O mascote Yoshi é um mini dinossauro de visual realista e soa como um animatrônico roubado do set de Jurassic Park (1993) e não a criaturinha fofa dos games. 

Não vou mentir que até respeito o senso de ousadia em tentar reimaginar um personagem tão icônico e trazer outro olhar para ele e penso que poderia até funcionar se fosse uma produção pensada para adultos e que visasse uma construção alternativa desse universo. Como uma adaptação pensada para crianças (na década de 90 videogames ainda eram considerados coisas voltadas para o público infantil) e para ser em certa medida fiel ao game, o filme fracassa completamente.

Hoskins e Leguizamo até tem uma química divertida como Mario e Luigi, mas sofrem com um texto incapaz de conferir personalidade a qualquer um deles e com um humor que nunca funciona como deveria. A cena em que eles são presos e explicam o sobrenome é, talvez, o único momento em que ri. Dennis Hopper devora o cenário como Koopa com um cabelo platinado e para cima tentando evocar o cabelo do vilão dos games. O exagero do ator não chega ao nível da divertida entrega de Raul Julia ao excessos em Street Fighter: A Batalha Final (1994), sendo prejudicado pela péssima computação gráfica que cria as partes reptilianas do vilão.

Com problemas de bastidores e uma série de escolhas criativas questionáveis, não é de se espantar que Super Mario Bros tenha sido tão rechaçado e causado a Nintendo a dar uma game over em adaptações de seus games durante muito tempo.


Trailer

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