Crítica – Eu Nunca...: 4ª Temporada

 

A impressão é que a série Eu Nunca... está acabando uma temporada cedo demais, que o ano final de Devi (Maitreyi Ramakrishnan) na escola poderia ser contado ao longo de mais de uma temporada. Por outro lado, é um desfecho que amarra tão bem o amadurecimento desses personagens que é melhor a série ter acabado aqui do que ter se alongado e perdido a mão.

O quarto ano da série começa basicamente no ponto onde deixamos na terceira temporada. Devi perde a virgindade com Ben (Jaren Lewinson), mas os dois ficam inseguros em relação a tudo que aconteceu e acabam se afastando durante as férias de verão. Quando voltam à escola, Devi descobre que Ben está com uma nova namorada e se sente usada. Enquanto isso, Paxton (Darren Barnet) não se adapta à realidade da faculdade, onde não é mais um garoto popular idolatrado por todos, e aceita um emprego como assistente de treinador em sua antiga escola.

Devi mais uma vez percebe como sua imaturidade e impetuosidade a colocam em problemas quando uma discussão com a nova namorada de Ben não apenas estraga sua chance de obter uma boa carta de recomendação para a faculdade como também lhe causa uma série de outros problemas na escola. O arco da personagem, ao ser confrontada com o fim da vida colegial e das expectativas que criou para si, é o de descobrir como seguir em frente. Obviamente isso perpassa também em seguir adiante após o longo período de luto pelo pai e como tudo isso a afetou bem como sua mãe, Nalini (Poorna Jagannathan).

Devi continua sendo uma protagonista fascinante por ela ser uma garota que deseja agir corretamente, mas é imatura e não tem as ferramentas para lidar com as crises e conflitos emocionais que se apresentam a ela, terminando por se auto sabotar. Aqui, porém, ela demonstra o quanto amadureceu buscando resolver os conflitos através do diálogo ao invés dos esquemas malucos de temporadas anteriores. Amadurecimento também é o que acontece nas tramas de Ben e Paxton que buscam compreender seus lugares na nova realidade pós escola. Ben especificamente lida com os sentimentos por Devi e o que fazer com eles agora que irão seguir seus próprios caminhos.

A temporada é eficiente em oferecer desfechos satisfatórios também para as coadjuvantes, como Eleanor (Ramona Young) resolvendo a relação com a mãe e encontrando outro rumo para seu sonho de ser atriz, Fabiola (Lee Rodriguez) entendendo seu compromisso com a diversidade no meio do seu clube de robótica, Nalini encontrando um novo amor, além de desfechos para a avó e a prima de Devi. Até o lombrado Trent (Benjamin Norris), um personagem que diverte pela pura idiotice ainda que consiga ir além da mera caricatura de maconheiro, tem um encerramento digno ao entender o amor que tem por Eleanor. Tudo bem que muito do que acontece é familiar a outras tramas adolescentes, mas se séries similares muitas vezes se perdem no vai e vem de seus personagens, aqui é tudo tão consistente e as emoções são tão genuínas que fica difícil não se envolver.

É uma série tão boa em dar camadas a seus personagens, mesmo aqueles que parecem mais estereotipados, que chama atenção quando ela não consegue fazer isso. Aneesa (Megan Suri), que tinha sido uma personagem importante em temporadas anteriores, aqui é reduzida a uma figurante de luxo. O novo interesse romântico de Devi não consegue ir além de um bad boy genérico e não parece ter outra função de existir além de ser mais um vetor no triângulo amoroso da protagonista.

São, no entanto, problemas que não tiram os méritos do competente desfecho de Eu Nunca... que entrega um sentimento agridoce de fim de um ciclo ao mesmo tempo em que celebra o quanto suas personagens cresceram.

 

Nota: 8/10

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