terça-feira, 13 de junho de 2023

Crítica – The Flash

 

Análise Crítica – The Flash

Review – The Flash
Depois de mais de um ano na gaveta da Warner junto com o segundo filme do Aquaman, The Flash finalmente estreia nos cinemas carregando a promessa de ser o recomeço do universo DC nos cinemas. Como é comum em produções que tem esse fardo de “estabelecer um universo”, porém, o filme acaba sofrendo por trazer muitos elementos que tem pouca pertinência para a trama presente e existem mais para estabelecer personagens futuros.

Na trama, Barry (Ezra Miller) descobre que é possível usar sua velocidade para viajar no tempo e decide voltar ao passado para impedir o assassinato da mãe, mesmo com aliados como Bruce Wayne (Ben Affleck) alertando contra os perigos de fazer algo assim. Barry ignora os avisos e cria uma linha do tempo alternativa em que a mãe está viva, mas meta-humanos como Aquaman ou Mulher-Maravilha não existem. Isso se torna um problema quando o general Zod (Michael Shannon) aparece para atacar a Terra tal qual em Homem de Aço (2013), mas não há Superman para enfrentá-lo. Agora Barry precisará da ajuda de uma versão alternativa dele próprio e do Batman (Michael Keaton) desse universo para impedir uma catástrofe.

O filme acerta no humor e no senso de inadequação de Barry, cuja falta de traquejo social soa coerente com um nerd que passou a vida toda estudando para tentar tirar o pai da cadeia e nunca teve tempo para realmente curtir a vida. Miller é também eficiente em mostrar o peso que a perda da mãe tem sobre Barry e a dor profunda que carrega consigo serve como um motor convincente para os extremos aos quais ele vai para tentar mudar o passado. Miller consegue, inclusive, fazer as duas versões de Barry soarem claramente distintas, com o Barry jovem sendo mais imaturo e impulsivo não apenas pela idade, mas por ter crescido protegido pelos pais, algo que o Barry original não teve e que se mostra parte importante do porquê ele ser um herói tão astuto.

Se antes o universo DC nos cinemas era muito marcado por filmes mais sisudos e com cores dessaturadas, aqui o diretor Andy Muschietti faz algo mais colorido, despretensioso e aventuresco, quase como se tentasse remeter a quadrinhos da Era de Prata. A estética busca muito mais um visual cartunesco do que um fotorrealismo e isso é bem evidente nas cenas de ação que vão muito mais esse visual de uma página de quadrinhos ganhando vida, quase como um desenho animado, do que algo mais pé no chão. Isso funciona na maior parte do tempo, com o filme divertindo pelas proezas velozes do herói e cenas, como o resgate dos bebês no hospital, que parecem saídas diretos de um curta dos Looney Tunes.

Ainda assim, os efeitos visuais se mostram irregulares em alguns momentos, especialmente nas cenas de viagem no tempo na qual o Flash vê as várias possibilidades de acontecimentos se desenrolando diante dele. Esses momentos usam “dublês digitais” dos atores do filme e soam completamente artificiais ao ponto de quebrar a imersão. Simplesmente filmar os atores e inserir essas várias imagens lado a lado ao invés de recriá-los digitalmente talvez parecesse menos bizarro visualmente.

O clímax, porém, degringola naquele borrão de ação computadorizada que é comum na maioria dos filmes de heróis, com uma grande batalha na qual os heróis enfrentam um exército sem rosto que logicamente não representa muita ameaça. O principal problema, no entanto, é como o antagonista, o ser que está por trás de todos os problemas desse universo alternativo, é derrotado de maneira tão rápida e fácil, fazendo a resolução soar anticlimática. Por mais que sejam curiosidades divertidas (em especial o Superman do Nicolas Cage), chega um ponto que todas as referências a outros filmes e universos, todos os easter eggs e fanservices mais distraem da trama principal e do arco de Barry do que agregam algo a ele.

Além disso, em meio a tanta coisa acontecendo a Supergirl (Sasha Calle) acaba não tendo muito espaço para mostrar a que veio embora Calle se esforce para mostrar como Kara é tão cheia de esperança quanto o primo apesar da vida traumática tê-la deixado mais endurecida. Iris West (Kiersey Clemons) aparece tão pouco que não funciona como interesse romântico, com a decisão dela em chamar Barry para sair soando mais como uma necessidade da trama do que um desenvolvimento orgânico, já que a narrativa nunca constrói exatamente qual é o motivo que ela teria para se apaixonar por Barry.

Dos coadjuvantes quem se sai melhor é o sempre confiável Michael Keaton como um Batman mais velho e mais experiente que serve como um mentor para Barry. O modo como eles se conectam por conta das perdas que tiveram apresenta um sentimento bem genuíno entre os dois personagens e serve como a âncora emocional que motiva a guinada de Barry em entender que não pode mudar o passado, não importa o quanto tente. Emoção também é o que move as cenas de Barry com a mãe, Nora, e apesar da atriz Maribel Verdú aparecer pouco, ela faz valer cada cena emanando um afeto tão poderoso que nos faz entender porque Barry arriscaria tanto para trazê-la de volta.

Assim, The Flash funciona pela condução da jornada emocional de Barry e do seu senso de humor, mas a necessidade de reconstruir o universo DC nos cinemas faz seu clímax virar uma bagunça.

 

Nota: 6/10


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