segunda-feira, 5 de junho de 2023

Crítica – Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

 

Análise Crítica – Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

Review Crítica – Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
Não esperava nada de Homem-Aranha: No Aranhaverso (2018) e ele foi uma das melhores produções de 2018. Digo não apenas em termos de animação, mas no geral. É lógico, portanto, que as expectativas estariam em alta para este Homem-Aranha: Através do Aranhaverso. Expectativas são uma coisa perigosa, podendo derrubar mesmo uma produção competente caso ela não corresponda a todo o hype criado. Felizmente não é o caso aqui, que aprofunda boa parte das ideias do original, ainda que eu tenha alguns problemas no modo como o filme decide encerrar.

A trama se passa algum tempo depois do primeiro. Miles (Shameik Moore) está mais confortável no seu papel de Homem-Aranha, ainda que continue com dificuldade de conciliar isso com a escola com a relação com os pais. As coisas se tornam ainda mais severas com a aparição do vilão Mancha (Jason Schwartzman), cujo poder de criar portais mais uma vez ameaça o multiverso. É nesse ponto que Gwen (Hailee Steinfeld) retorna ao universo de Miles. Como parte de uma força-tarefa multiversal de “pessoas aranha” que caça focos de instabilidade Gwen está lá para deter o Mancha, mas o líder da equipe, Miguel O’Hara (Oscar Isaac), o Homem-Aranha do ano 2099, tem seus próprios planos em relação a Miles.

Assim como o original, a animação deslumbra pela sua inventividade visual, fazendo cada personagem ter uma estética própria para traduzir visualmente sua identidade e origem. Uma variante do vilão Abutre vinda da Renascença parece feito de papiro, o Spider Punk (Daniel Kaluuya) remete a algo feito através de colagens de elementos pré existentes e com as bordas grosseiramente cortadas, evocando a abordagem “faça você mesmo” da estética punk. Cores mudam constantemente para simbolizar os estados de ânimo dos personagens e cada universo alternativo parece ter sua própria paleta de cores e direção de arte, fazendo-os soar verdadeiramente singulares em relação ao outro.

A trama vai no cerne da questão do significa ser um Homem-Aranha e da capacidade do herói de ser definido pelas tragédias que acontecem com as pessoas ao seu redor. Ele sempre foi um herói que tenta equilibrar muitas coisas ao mesmo tempo, carregando o peso do mundo nas costas, e eventualmente não consegue salvar todo mundo. Mas o que aconteceria com um Homem-Aranha que tomasse ciência desse destino? Evitar um destino predeterminado está no coração das maiores tragédias da dramaturgia ocidental, do teatro grego a textos de Shakespeare como Hamlet ou Macbeth e é dessa premissa quintessencial que o filme extrai sua força dramática.

Já vimos histórias suficientes do Homem-Aranha nas últimas duas décadas para saber o que está em jogo para Miles e a reversão de fortuna que pode significar ele fazer algo diferente é o que ajuda a conferir tensão a uma história que já vimos antes. Mais que isso, a disputa entre Miles e Miguel leva ao extremo toda a conversa sobre poder e responsabilidade que está no centro da ética do Homem-Aranha. Afinal, agir com responsabilidade significa ser capaz de sacrificar uma pessoa em prol do bem maior ou dar o máximo de si para salvar a todos mesmo sabendo dos riscos que isso representa? Não é uma questão fácil e o roteiro entende isso, dando a Miguel uma motivação compreensível para a maneira dogmática com a qual tenta preservar o cânone, jamais reduzindo-o a um mero vilão.

Apesar de todo o encantamento visual, da agilidade da ação e da construção dramática do roteiro, devo dizer que o final é um pouco decepcionante. Aviso que o resto do parágrafo contem SPOILERS do filme, então não leiam caso ainda não tenham assistido e não querem ter nada estragado.

Pois bem, o problema é que a narrativa termina em inconclusa, em um gancho para um terceiro filme sem, no entanto, resolver nenhuma trama ou arco apresentado aqui. Claro, filmes de heróis normalmente deixam ganchos para continuação, mas em geral são estruturados como produtos completos, com início, meio e fim, Isso não acontece aqui, com Através do Aranhaverso sendo a primeira parte de uma história que vai ser concluída num filme seguinte. Como nada disso estava presente na divulgação como fez Velozes e Furiosos 10 (que sempre informou ser a primeira parte de uma conclusão história maior) ou mesmo no título (simplesmente colocar um “parte 1” no título resolveria) imagino que muita gente que for ao cinema pode se frustrar com isso.

Mesmo com o desfecho relativamente frustrante, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso apresenta uma excelente aventura que encanta pela sua inventividade visual e pelo modo consistente com o qual discute temas centrais ao ethos do personagem.

 

Nota: 9/10


Trailer

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