A trama é protagonizada por Jane (Sophie Turner), uma jovem depressiva internada em uma clínica que planeja se suicidar assim que sair da instituição para uma visita de Natal à família. A ideia é fazer isso no voo para casa, mas o avião cai numa região montanhosa tendo ela e outro passageiro, Paul (Corey Hawkins), como sobreviventes. Agora os dois precisam trabalhar junto para encontrarem um meio de serem resgatados.
É curioso como o segmento inicial de Jane na clínica destoa esteticamente do início do filme, com um ritmo de montagem bem mais ágil e cenas de pesadelos que pendem para o surrealismo, elementos que nunca retornam à trama. Uma vez que a narrativa chega ao cenário da sobrevivência, algumas escolhas estranhas de roteiro impedem que as coisas fluam como deveriam. O principal é o modo como decide que Jane deveria ocultar sua depressão e tendências suicidas de Paul, algo que o público já sabe desde os primeiros minutos, travando o desenvolvimento da relação entre os dois até que o personagem receba uma informação que nós já temos.
Mesmo quando o texto chega a esse ponto, a construção do arco de superação de traumas de Jane soa artificial e apressado. Basta ela se abrir para um completo estranho sobre ter testemunhado o suicídio do pai para que ela se libertasse de anos de depressão e ideação suicida, algo que a personagem não conseguiu em anos de terapia.
Esse tipo de psicologia de botequim faz parecer que um trauma severo (e as consequências dele) simplesmente desaparecem do dia para noite depois de uma única conversa ou depois de algum outro evento extremo igualmente traumático (tipo sobreviver a um desastre aéreo). Tudo embalado por frases de efeito cheias de platitudes fáceis e vazias sobre superação que pouco fazem dar alguma complexidade emocional a Jane. Paul, por sua vez, é um personagem que existe apenas para mover a história de Jane adiante, sem qualquer motivação ou arco próprio, caindo no problemático clichê do “negro mágico” que existe apenas para inspirar e dar lições de moral em uma personagem branca. É um personagem tão vazio que cheguei a imaginar que ele pudesse ser meramente fruto da imaginação de Jane, já que ele não faz qualquer coisa senão servir à história dela.
As cenas de tensão em que os personagens lutam para sobreviver são prejudicadas pela câmera tremida, cheia de zooms chacoalhantes que foram provavelmente pensados para dar algum grau “realismo” ou um caráter “documental” às imagens, ignorando que hoje nem mesmo documentários usam esse manejo epilético de câmera. Ao invés de produzir tensão, essas escolhas estéticas só deixam tudo fragmentado e bagunçado. Incomoda também como muitas batidas da narrativa e das interações entre a dupla principal soam muito parecidas com Depois Daquela Montanha (2017)
Apesar de boas intenções, Tempestade colide em uma série de
equívocos que se somam em uma trama desastrosa e entediante de acompanhar.
Nota: 2/10
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