quarta-feira, 14 de junho de 2023

Crítica – Velozes e Furiosos 10

 

Análise Crítica – Velozes e Furiosos 10

Review – Velozes e Furiosos 10
Quando escrevi sobre o nono Velozes e Furiosos mencionei o quanto a franquia já estava dando sinais de cansaço com tramas forçadas e um senso de falta de consequência. Pois todos esses problemas retornam em Velozes e Furiosos 10, que provavelmente é o ponto mais baixo da franquia até aqui.

Na trama Dom (Vin Diesel) e sua família começam a ser caçados pelo perigoso Dante (Jason Momoa). Filho do traficante Reyes (Joaquim de Almeida), vilão do quinto filme, Dante busca vingança e almeja destruir a família de Dom. Depois de atrair os protagonistas para uma armadilha em Roma, culpando-os por um atentado a bomba, Dom e seus aliados são obrigados a se separarem para evadir as autoridades. Sem o suporte da família Dom precisa encontrar um meio de deter o vilão.

O filme começa já retificando a continuação (mais uma vez) da franquia ao apresentar cenas de Momoa sendo inserido em momentos importantes do quinto filme via um chroma key bem tosco. Quando escrevi sobre o filme anterior mencionei como a invenção de um irmão para Dom era um expediente preguiçoso e desonesto com o público, criando a impressão de que a narrativa pode simplesmente reinventar o passado a qualquer momento, criando um sentimento de que nada tem qualquer consequência real, já que pode ser modificado ou desfeito.

Essa falta de consequência também se verifica no fato de ninguém ficar efetivamente. Não bastando a ressureição gratuita de Han (Sung Kang) no nono filme, este décimo traz de volta outra personagem que tinha categoricamente morrido em aventuras anteriores. A morte aqui tem menos consequência do que no universo de Dragon Ball. Isso contribui para o esvaziamento do impacto de momentos que deveriam ser dramáticos como a queda de um avião ao fim ou o instante em que um personagem aparentemente se sacrifica para salvar o filho de Dom. Era para ser emocionante ver um personagem se redimir através do sacrifício, mas como já imaginamos que ele deve aparecer vivo daqui a um ou dois filmes, essa emoção desaparece.

O filme também sofre com uma trama arrasta, que se divide em vários núcleos uma vez que a família se separa e a maioria dessas subtramas tem pouco a acrescentar à narrativa principal. Como a maioria desses personagens existia meramente para servir e/ou idolatrar Dom, nenhum deles tem muito o que fazer uma vez que ficam separados. Tej (Ludacris) e Roman (Tyrese Gibson) seguem a rotina sem graça de trocarem farpas constantemente. A jornada deles envolve a dupla, além de Ramsey (Nathalie Emmanuel) e Han, tentar conseguir equipamentos para ajudar os demais, mas nada do que acontece com eles faz qualquer diferença. A cena em que eles visitam o traficante vivido por Pete Davidson e Han fica lombrado com um cupcake com drogas poderia ser inteiramente removida que não faria diferença.

A ida de Dom ao Rio prende o personagem em uma investigação que vai do nada ao lugar nenhum, principalmente porque o público já sabe de antemão quem é Dante e o que ele quer, então apenas ficamos esperando Dom adquirir informações que já temos. John Cena tem algumas cenas divertidas ao lado do filho de Dom, mas muito do que envolve os dois também poderia ser removido do filme sem muito prejuízo.

O senso de que as coisas não andam se dá também pela incapacidade de Vin Diesel de funcionar como o centro emocional da trama, algo que comentei desde o oitavo filme. O senso de isolamento da família e sentimento de que todos estão em perigo deveria trazer uma tensão palpável para Dom, mas Diesel se conduz em cena com a mesma apatia estoica e voz arrastada com as quais vem usando nos filmes anteriores, nunca nos dando a dimensão do peso desses eventos sobre Dom. Ninguém, no entanto, parece com menos vontade de estar em cena do que Brie Larson como Tess. Toda cena dela soa completamente desinteressada, no piloto automático e sem carisma. A impressão é que a atriz só está ali por alguma obrigação contratual com o estúdio, como Edward Norton em Uma Saída de Mestre (2003).

Do elenco quem funciona melhor é Jason Momoa como Dante. Momoa entende perfeitamente a lógica absurda e conduta exagerada do seu personagem, que é basicamente um vilão de desenho animado oitentista. Entregue a excessos, Momoa diverte devorando o cenário sempre que aparece em cena e seu comprometimento com absurdo faz funcionar um vilão que, de outro modo, soaria ridículo por conta de seus planos mirabolantes, cheios de variáveis que ele não teria como prever, ou que deixa de matar os heróis mesmo quando tem claras chances como se propositalmente estivesse tentando falhar.

Em termos de ação, o destaque fica com a perseguição inicial em Roma, com os personagens tentando deter uma enorme bomba que rola pela cidade. Toda a sequência tem o misto de adrenalina e grandiloquência maluca que marcou os melhores momentos da franquia, mas depois dela não tem nada que esteja no mesmo nível de empolgação. Muito da ação é prejudicada pelo excesso de efeitos digitais artificiais, como na corrida envolvendo Dante e Dom no Rio, no qual fica evidente que nenhum dos atores está efetivamente no volante e sim diante de um fundo verde. Em outros casos a ação não empolga simplesmente porque todos os personagens são tão capazes de lidar com as ameaças que nunca sentimos que ninguém está realmente em perigo ou sendo desafiado, como a cena em que Tej, Roman, Ramsay e Han são emboscados pelas autoridades ao tentarem pedir ajuda a Shaw (Jason Statham).

Há ainda momentos em que a ação sequer faz sentido para os personagens, como a tão alardeada luta entre Letty (Michelle Rodriguez) e Cipher (Charlize Theron). No momento em que ela ocorre a trama já tinha estabelecido Cipher como uma aliada contra Dante e a única chance de Letty em sair da prisão, então não havia qualquer razão para as duas lutarem. Sem falar Letty aceitou bem tranquila alianças com antigos inimigos em filmes posteriores, então não há aqui uma motivação convincente para as duas brigarem.

Inchado, arrastado, sem graça e com uma narrativa cada vez mais forçada, Velozes e Furiosos 10 deixa evidente que a franquia já está transitando com o tanque em pane seca.

 

Nota: 4/10


Trailer

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