Pensei muito nisso assistindo Agente Stone porque apesar de ser uma produção feita com competência técnica não conseguiu despertar em mim nenhuma reação, nem mesmo para detestar, o que para mim é pior do que o filme ser ruim. Sair com raiva de um filme ruim significa ao menos que aquele produto artístico te afetou, te tocou em algum nível, mesmo que para te fazer odiar. Um filme que não move você de nenhum modo é o pior tipo de arte e é talvez por não conseguir nos mover em qualquer direção que, como disse Tarantino, esse tipo de produção não tem impacto na nossa vivência cultural. Assistimos, esquecemos e seguimos adiante como se esses filmes não tivessem existido, tivessem desaparecido no éter ou fossem frutos de nossa imaginação.
Agente Stone soa como uma produção gerada por algoritmo, que compila todos os ingredientes que se espera de um filme de ação atual, como cenas de ação grandiosas, trama que se passa em diferentes lugares do mundo, elenco diverso e heróis trocando piadinhas e frases de efeito engraçadas entre si no meio da ação. Em tese tem todos os ingredientes de um filme de ação divertido e ainda assim nada funciona como deveria. É tudo tão mecânico, tão burocrático, sem alma, colocado ali só porque é o que se espera desse tipo de filme que é difícil encontrar alguma graça ou emoção genuína.
A trama gira em torno de Stone (Gal Gadot) uma agente de um grupo secreto de operativos conhecido como A Carta. Esse grupo não pertence a nenhum país e opera de maneira independente e sem responder a ninguém em prol da segurança global, auxiliados pela inteligência artificial chamada de Coração. Os problemas começam quando a hacker Keya (Alia Bhatt) descobre como invadir o Coração e passa a trabalhar com um espião que quer se vingar da agência.
É curioso que o filme trate como heróis um grupo de agentes renegados que age sozinho e sem prestar contas interferindo constantemente no equilíbrio e política global, basicamente tornando irrelevantes os poderes ou fronteiras existentes, algo ainda mais grave quando pensamos que as ações deles são ditadas por uma IA. É o tipo de organização que em qualquer outro filme de espionagem seria tratada como um perigo (a trama de Missão Impossível:Nação Secreta é exatamente sobre isso) e como uma ação fascitoide. Até mesmo em universos ficcionais menos realistas entidades como a SHIELD ou os G.I Joe respondem a governos ou órgãos internacionais.
Conforme aprendemos sobre a motivação do vilão Parker (Jamie Dornan) e de Keya, cheguei a imaginar que a narrativa daria uma guinada para que víssemos A Carta como uma ameaça, mas isso não acontece. Ao invés disso o filme segue um expediente que vem se tornando comum recentemente de que quando um vilão começa a fazer sentido demais, o roteiro insere atos cruéis e não exatamente necessários de violência para que o antagonista se torne um genocida radical com o qual não é mais possível concordar ou ter simpatia.
Sim, o arco de Stone é entender que não podem depender o tempo todo do Coração e que sem humanidade tomando decisões a probabilística fria do computador soa cruel, o que espanta é que ainda assim a protagonista continua a defender A Carta ao invés de achar que todo o sistema precisa cair e outra abordagem precisa ser feita. O desfecho entrega uma conciliação covarde no qual o estado das coisas permanece praticamente o mesmo, apenas com pequenas concessões. Não deixa de ser curioso que uma plataforma de conteúdo como a Netflix faça um filme justamente defendendo o uso de IAs bem no momento em que a indústria do cinema discute como essas ferramentas podem ser problemáticas.
Gal Gadot tenta dar algum carisma a Stone, mas não tem muito o que fazer com o material inane que tem em mãos. Do mesmo modo Jamie Dornan tenta situar a motivação de Parker em uma dor bem real, embora o texto o sabote ao reduzi-lo a um genocida genérico depois de certo de certo ponto. A ação é grandiloquente, embora sofre com a montagem demasiadamente picotada que torna tudo mais fragmentado do que deveria e o fato de não nos importarmos o suficiente com os personagens para sentir qualquer tensão ou adrenalina como a possibilidade deles viverem ou morrerem.
No fim das contas, Agente Stone soa como um daqueles filmes
pensados para deixar passando na televisão enquanto você mexe no celular ou faz
alguma coisa no computador. Algo pensado para ser descartável e que não tem
outro destino além de ser descartado.
Nota: 4/10
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