Como o game não tem narrativa, o filme se baseou na história real de Jann Mardenborough (Archie Madekwe), um jovem britânico que jogava Gran Turismo competitivamente e foi selecionado por um programa da Nissan para transformar gamers em pilotos. Jann é treinado por Jack Salter (David Harbour), o típico mentor experiente marcado por traumas do passado, e precisa se afirmar no mundo das corridas contra as dúvidas de todos ao seu redor.
Num ano que tivemos um filme como Barbie, que lida com um senso de ironia com o fato de ser uma grande publicidade corporativa, chama atenção o modo pouco sutil com o qual Gran Turismo exalta o jogo em que se baseia e comunica seus atributos, bem como os da montadora Nissan. São muitos os diálogos expositivos que soam menos como conversas entre pessoas e mais como pitching de vendas a exemplo das várias falas sobre como o game é a melhor simulação de corridas, feita com uma precisão e amor enormes, como se estivéssemos diante de um VT institucional para atrair investidores.
Ao invés de contar uma história, parece que a razão de existir do filme é simplesmente nos convencer do quanto Gran Turismo é um game tão bom que qualquer um poderia ter a história de Jann e nos encorajar a comprar o jogo. Aliás, incomoda como os personagens repetidamente insistem que Gran Turismo não é um game, mas um simulador, como se as duas coisas fossem excludentes ou que, em pleno 2023, se tentasse discutir que games são algum tipo de forma expressiva inferior. O que soa bem contraditório para um filme feito pelo Playstation Studios.
Apesar de meio cínico em sua publicidade corporativa, o filme envolve pelo modo como constrói a relação entre seus personagens, especialmente entre Jann e Jack. Muito do motivo do filme funcionar é a performance de David Harbour como Jack, evocando o cansaço e o peso de alguém que sente que desperdiçou o próprio potencial e levou uma vida emprestando seus talentos a pessoas que não mereciam estar atrás de um volante. Conforme Jack vai percebendo a capacidade de Jann, o cinismo dele quanto a possibilidade de um gamer virar piloto se transforma em um interesse genuíno pelo garoto e o engenheiro adota um protecionismo paternal em relação a ele, como que vendo em Jann uma chance de redenção para si.
Há um afeto genuíno em cena conforme esses personagens vão nutrindo respeito e admiração um pelo outro e isso nos mantem interessados na história deles mesmo quando tudo ao redor é previsível, como o ricaço esnobe e babaca como rival ou o acidente que faz o protagonista duvidar de si. Por outro lado, outros aspectos da trama não são aproveitados como deveriam como a complicada relação de Jann com a família, que desaparece quase que por completo assim que ele começa a correr. Só perto do final que o pai dele, Steve (Djimon Hounsou), volta para que ambos resolvam suas diferenças, mas é tudo rápido demais e os problemas entre Jann e o irmão são meio que deixados de lado.
As corridas são o outro ponto positivo, com a condução de Blomkamp dando energia e tensão a esses momentos, nos fazendo sentir como guiar um carro dessa potência demanda física e mentalmente o piloto. O design de som nos faz sentir a força desses automóveis e a resposta de cada parte deles aos comandos do piloto, bem como nos indica quando algo dá errado, reproduzindo a capacidade de escuta e tato de pilotos experientes que conseguem perceber problemas só de ouvir o barulho do carro ou sentir pequenas mudanças no modo como ele responde.
Gran Turismo: De Jogador a Corredor faz pouco para disfarçar que
estamos diante de uma grande publicidade corporativa e sua trama básica de
superação só se sustenta pelo trabalho de David Harbour e boa condução das
cenas de corrida.
Nota: 6/10
Trailer
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