Na trama, Poirot (Kenneth Branagh) está vivendo em Veneza quando é convidado pela escritora Ariadne Oliver (Tina Fey) a participar de uma sessão espírita em um prédio da cidade tido como mal assombrado. A escritora espera que Poirot seja capaz de desmascarar a suposta médium Reynolds (Michelle Yeoh), que diz ser capaz de se comunicar com a filha morta da cantora de ópera Rowena Drake (Kelly Reilly). A noite da sessão é marcada por uma forte chuva que os deixa presos no prédio e assassinatos começam a acontecer.
É uma trama que pende mais para o sobrenatural, algo que não era comum nas histórias escritas por Christie e, talvez por isso, deixe o mistério um pouco óbvio. É evidente desde o início que a trama irá no sentido de Poirot provar que todos os elementos supostamente metafísicos tem uma explicação racional, então a dubiedade dos eventos ou mesmo a ambiguidade que Michelle Yeoh tão competentemente traz à Sra. Reynolds acabam não dando o suspense que deveriam.
Se os dois filmes anteriores de Branagh incomodaram os fãs mais puristas ao adicionar novos elementos à personalidade de Poirot esse novo filme não aplacará esses ânimos ao fazer o detetive se abrir à possibilidades metafísicas. Até então eu entendia o esforço dos filmes de Branagh em dar mais camadas ao detetive, fazendo isso de maneira meio problemática no primeiro filme, mas mais consistente em Morte no Nilo (2022) ao explorar traumas passados de Poirot e como isso o levou a ser quem é, tornando Poirot alguém mais conectado com suas emoções e menos uma calculadora humana.
Aqui, no entanto, ao fazer o detetive se abrir ao sobrenatural, a produção se afasta daquilo que é a característica mais basilar do detetive que é sua inabalável racionalidade. Entendo a ideia de dar a Poirot um arco dramático para não reduzi-lo a meramente explicar o mistério ao espectador, mas isso precisa ser desenvolvido de maneira coerente com o que é estabelecido do personagem.
Independente dessas questões de adaptação o filme de fato oferece muitos elementos a se apreciar. Como nas duas produções anteriores a trama acerta no plantel variado de suspeitos exóticos, da já citada médium passando pelo traumatizado médico Dr. Ferrier (Jamie Dornan), o egocêntrico chef Maxime (Kyle Allen) ou a espevitada escritora Ariadne cujas interações com Poirot rendem momentos bem divertidos.
O filme acerta na construção de sua atmosfera macabra, muito por conta do trabalho do diretor de fotografia Haris Zambarloukos que trabalhou com Branagh nas duas aventuras anteriores de Poirot e em Belfast (2021). Usando contrastes de luz e elementos da arquitetura veneziana para fazer esses espaços soarem como locações lúgubres, conectados a algum tipo de horror que está sempre à espreita em seus corredores sinuosos, passagens ocultas e arte antiga. O mistério segue elementos familiares de interrogatórios e reviravoltas, mas evita se estender mais do que deveria e consegue amarrar tudo ao final embora o já citado componente sobrenatural destoe do universo tipicamente habitado por Poirot.
A Noite das Bruxas entrega um mistério competente graças à concisão
da trama, atmosfera macabra e personagens carismáticos embora algumas escolhas
se distanciam de elementos típicos da personalidade de Poirot.
Nota: 6/10
Trailer
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