quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Crítica – O Conto da Aia: 5ª Temporada

 

Análise Crítica – O Conto da Aia: 5ª Temporada

Review – The Handmaid's Tale: 5ª Temporada
Quando escrevi sobre o quarto ano de O Conto da Aia falei que a série dava sinais de desgaste, mas que o impactante desfecho sinalizava um caminho adiante e que as próximas temporadas talvez não ficassem andando em círculos. Isso não aconteceu nesta quinta temporada e a impressão é que a trama fica vagando a esmo sem um senso de direcionamento, com ideias jogadas de qualquer jeito na tela, abandonadas e sendo substituídas por outras logo depois. A impressão é que não há um plano, não há uma visão e tudo é feito só para alongar a série e render mais temporadas ao invés de contar uma história consistente.

A trama segue onde o ano anterior parou, com June (Elizabeth Moss) matando o comandante Fred (Joseph Fiennes) e as consequências disso. Serena (Yvonne Strahovski) tenta usar o evento para atrair simpatia do mundo para Gilead e retomar sua posição na nação. Enquanto June aproveita para pressionar ainda mais Gilead e tentar recuperar a filha, que agora está sendo treinada para se tornar uma esposa e pode ser forçada a casar com um comandante a qualquer momento.

Assim como no ano anterior, a impressão é que a narrativa anda em círculos, alianças são feitas, desfeitas e refeitas por conta de uma série de conveniências da trama. Personagens mudam de personalidade a cada episódio para servir as demandas da narrativa sem muita consistência e agem de maneira inexplicavelmente estúpidas só porque o roteiro parece não ter outra forma de continuar a criar conflito.

June, por exemplo, começa disposta a acabar com Serena de qualquer jeito. Eventualmente June ajuda Serena com o parto depois que ela ajuda June a fugir de Gilead (sim, June tenta voltar a Gilead e é capturada mais uma vez, como é de praxe na série). Não parece que elas estão em paz, mas que há uma espécie de ponto de equilíbrio entre elas, ao ponto em que June parece se sentir efetivamente mal quando Luke (O.T Fagbenle) faz Serena ser presa e perder a guarda do filho ao voltar para o Canadá. No episódio seguinte, no entanto, June vai visitar Serena na prisão apenas para tripudiar dela, numa guinada que não faz nenhum sentido, já que momentos antes June chorava ao ver a antiga rival ser separada do filho.

O arco de Serena também soa como uma repetição do que já vimos antes. Ela tenta conseguir algum poder para si em Gilead apenas para ser duramente lembrada que a estrutura misógina da nação jamais permitiria que uma mulher tivesse algum poder real. Já vimos isso antes e tudo aqui soa repetido. Claro, aqui a narrativa a leva ao extremo de ser basicamente reduzida a uma aia, mas não traz a personagem nenhum desenvolvimento realmente novo e ao fazê-la repetir erros do passado a trama a faz soar estúpida.

Quem também se mostra desacaracterizadamente burro é Nick (Max Minghella). Depois de assinar um acordo com Tuello (Sam Jaeger) para ser um informante a ação seguinte de Nick é entrar no casamento do comandante Lawrence (Bradley Whitford) e dar um soco nele pelo atentado a June, gritando sua motivação para quem quisesse ouvir. Nick sempre foi construído como um espião astuto, que sabia o momento exato de agir, mesmo em situações de crise, e que sobreviveu tanto tempo em Gilead por saber usar os dogmas do país a seu favor. Aqui, no entanto, ele age como um completo imbecil, sendo desnecessariamente preso e praticamente denunciando sua posição, já que qualquer informação que vazar as pessoas certamente suspeitarão dele.

Há também uma série de elementos da construção do universo narrativo que soam frouxos. Assim como na temporada anterior, Serena recebe constante apoio de manifestantes ultraconservadores no Canadá sem que o motivo dessas pessoas a apoiarem nunca é devidamente construído e contrasta com a imagem que a série criou ao longo das demais temporadas de que Gilead seria uma espécie de pária internacional. Apesar desse aparente apoio, esses manifestantes desaparecem por completo quando Serena é presa ao retornar ao Canadá. Era de se imaginar que essas pessoas iriam se mobilizar para pedir a soltura dela, mas nenhum movimento do tipo é mencionado, com essas multidões sumindo com a mesma conveniência que apareceram.

Com a mesma conveniência surgem protestos no Canadá exigindo que os refugiados dos EUA deixem o país. De novo, considerando que a trama várias vezes tratou Gilead como uma nação isolacionista e mal vista, esse desdobramento não soa convincente. É difícil crer que alguns protestos entre apoiadores e críticos de Gilead mudassem a opinião pública tão rapidamente. É o tipo de coisa que parece ser inserida para forçar um conflito.

Tia Lydia (Ann Dowd) segue como a única personagem minimamente interessante. Ela é uma crente verdadeira nos dogmas de Gilead, mas sua crença constantemente se choca com o modo arbitrário com o qual os comandantes se valem desses dogmas como instrumentos de consolidação de poder. Isso somado ao apego quase maternal que ela desenvolve por Janine (Madeline Brewer) a fazem aos poucos perceber como mulheres não tem chance alguma ali. Claro, ela continua sendo uma zelota agressiva, mas vemos como a personagem é movida menos pelo desejo de poder e mais por uma crença deturpada de que está genuinamente fazendo bem àquelas mulheres.

De maneira semelhante, a temporada dá algumas camadas a mais a Lawrence e mostra o perigo de tentar fazer concessões a fascistas. June tenta negociar com o comandante, crendo que ele quer mudar as coisas e o trabalho de Bradley Whitford de fato nos faz perceber o arrependimento que ele tem por ter criado uma teocracia violenta. O comandante, no entanto, por ego ou convicção, ainda acredita que o equivocado projeto de nação de Gilead pode ser resgatado ou redirecionado ao invés de ser substituído e essa insistência mudanças pequenas que pouco alteram o status quo fazem June perceber que Lawrence nunca ia efetivamente transformar as coisas. Ele fazia acomodações, concessões para dar a impressão de mudança, mas sem mudança real. Ao confiar em Lawrence e na ideia de que é possível negociar com um fascista June apenas permitiu que ele ganhasse mais poder.

Com personagens inconsistentes, uma trama que parece perdida e conflitos que reciclam ideias de temporadas anteriores, o quinto ano de O Conto da Aia entrega a pior temporada da série e caminha para sua temporada final com pouca esperança de que encontrará um desfecho digno do alto nível de seus primeiros anos.

 

Nota: 4/10


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