sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Crítica – A Pequena Sereia

 

Análise Crítica – A Pequena Sereia

Review – A Pequena Sereia
Mais nova tentativa de um live action de suas animações clássicas, A Pequena Sereia é mais uma animação a usar tecnologia de ponta para recriar de maneira bastante realista o universo submarino de sua protagonista. A exemplo de produções como o remake de O Rei Leão (2019) esse fotorrealismo mais tira do que acrescenta à experiência.

Na trama Ariel (Halle Bailey) é uma sereia sonhadora que anseia em conhecer o mundo da superfície apesar de seu pai, o poderoso Rei Tritão (Javer Bardem) alertá-la dos perigos que os humanos representam. Quando Ariel salva o príncipe Eric (Jonah Hauer King) ela se torna ainda mais decidida em experimentar o modo de vida dos humanos. A sereia decide aceitar um perigoso acordo com a bruxa do mar Ursula (Melissa McCarthy) para se tornar humana, mas isso coloca os mares e a superfície em risco.

O filme recria o fundo do mar com muita fidelidade e competência técnica, mas essa escolha por realismo faz o reino submarino soar vazio, sem graça e desprovido de encantamento. Isso fica evidente no número musical de Aqui no Mar, uma das canções mais marcantes da animação que perde muito da sua energia e deslumbramento porque as criaturas marinhas estão presas a se movimentarem como criaturas marinhas. Se até o filme do Aquaman (2018) conseguiu colocar um polvo tocando bateria, não vejo porque uma trama mais lúdica e fantasiosa como A Pequena Sereia deveria se prender tanto ao realismo.

Esse realismo inclusive prejudica os companheiros animais de Ariel, Sebastião (Daveed Diggs), Linguado (Jacob Tremblay) e Sabidão (Awkwafina), que perdem muito de sua expressividade e carisma por conta de não poderem representar visualmente emoções e seus movimentos estão atrelados a reproduzir ações de animais. Por mais que as vozes deles sejam competentes e tentem trazer a emoção que se exige desses personagens, os rostos inexpressivos desses animais fotorrealistas caminham em descompasso com as vozes, como aconteceu em O Rei Leão (2019).

O longa também amplia a duração em relação ao original, com quase duas horas e meia. Algumas cenas dão mais visibilidade a Eric, que pouco aparecia na animação, outras a Tritão e suas filhas. O principal incremento é quando Ariel se torna humana e a trama dá mais tempo para mostrar o encantamento da garota com esse mundo, justificando sua ação de deixar os mares como uma escolha que não se dá apenas por Eric. Nada disso, porém, é indispensável para a narrativa e sua mensagem, com muitas dessas inserções quebrando o ritmo da trama e fazendo uma história extremamente simples se alongar mais do que deveria já que nada disso serve para dar muito mais profundidade aos personagens.

As novas canções que o filme insere são competentes, mas se mostram igualmente dispensáveis, podendo ser cortadas sem qualquer prejuízo e sem o mesmo impacto das canções originais. Como em boa parte dos live actions que a Disney tem feito nos últimos anos, praticamente todos os méritos do filme repousam nos méritos do original e o que o remake traz de diferente na maioria dos casos não funciona. É um esforço preguiçoso de copiar e colar o material original, confiando que a nostalgia do espectador será o suficiente para encher as salas de cinema.

Quem segura minimamente o filme e nos mantem investidos na jornada de Ariel é o trabalho de Halle Bailey, que evoca bem o otimismo, o desejo e os anseios da sereia. Alguém fascinada com um universo que parece inalcançável, dotada de uma curiosidade ingênua e um senso de busca por um local a qual pertencer. Em nenhum momento do filme isso fica mais evidente do que na cena em que Bailey canta Parte do Seu Mundo, trazendo a tona todo o anseio de Ariel por algo fora de seu alcance, a solidão que ela sente e a repressão de um desejo que parece não caber em si, precisando ser extravasado na forma de uma canção. A performance vocal da atriz carrega todo esse sentimento e nos conecta com a jornada emocional de Ariel, nos conectando e fazendo o espectador se importar com tudo que está em jogo para a protagonista.

Ainda assim, o trabalho de Bailey não nos afasta da impressão de que esse é mais um remake feito a toque de caixa pela Disney, visando apelar para a nostalgia do público e que confunde realismo visual com encantamento.

 

Nota: 5/10


Trailer

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