segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Crítica – Sex Education: 4ª Temporada

 

Análise Crítica – Sex Education: 4ª Temporada

Review – Sex Education: 4ª Temporada
O fim de uma série da qual gostamos é sempre algo agridoce. Por um lado queremos ver mais, por outro temos a satisfação de vê-la encerrar antes que se alongue demais. No caso de Sex Education esses sentimentos ainda encontram a constatação de que o elenco já passou do ponto em que é capaz de nos convencer de que são adolescentes, então é melhor mesmo colocar um ponto final.

Quando escrevi sobre a terceira temporada, mencionei como um dos grandes méritos da série era sua capacidade de sempre dar complexidade a seus personagens e mesmo figuras que operam como antagonistas ou vilões nunca são reduzidos a figuras unidimensionais. A temporada começa com Otis (Asa Butterfield), Eric (Ncuti Gatwa) e os demais chegando a um novo colégio, este mais inclusivo e aberto. Enquanto isso Maeve (Emma Mackey) começa seu curso nos Estados Unidos e a mãe de Otis, Jean (Gillian Anderson), começa a demonstrar que está sofrendo de depressão pós-parto. Na nova escola Otis tenta abrir uma nova clínica de aconselhamento, mas descobre que o local já tem sua terapeuta sexual em O (Thaddea Graham), iniciando uma rivalidade com a garota.

Como em outras temporadas, a série é hábil em desenvolver seus personagens de maneira consistente, dando espaço até mesmo para os personagens menos centrais mostrarem alguma nuance e permitir que nos conectemos a eles. Assim como aconteceu com Orange is the New Black, uma série que também tinha um amplo e diverso elenco, a impressão é que Otis não é mais o único protagonista e não digo isso como um problema. São tantos personagens interessantes que seria um desperdício não passar algum tempo entendendo-os melhor.

Isso se aplica tanto aos personagens que são introduzidos nessa última temporada quanto aqueles que já acompanhamos há algum tempo. Ruby (Mimi Keene) tem seu passado explorado mais uma vez, mostrando como uma infância de bullying a levou a ser a patricinha superficial que se tornou. O reprimido Michael (Alistair Petrie) começa a lidar com suas repressões sexuais e afetivas, buscando ativamente ser um sujeito melhor. Aimee (Aimee Lou Wood) tenta encontrar um jeito de transformar o trauma sofrido temporadas atrás, enquanto que Eric finalmente é colocado para tentar conciliar sua sexualidade com sua religiosidade, mundo que ele se esforçou para manter separados e que agora convergem diante dele.

Se inicialmente O não parece ser nada mais que uma antagonista para Otis, fiquei contente como aos poucos ela tem sua confiança e atitude descolada desconstruída para mostrar como ela é também uma jovem insegura com dificuldade de lidar com elementos da própria identidade. O olhar sobre os personagens é sempre empático, tentando entender como eles tornaram daquela maneira e compreendendo que lidar com os próprios problemas não é algo que se resolve do dia para a noite, que requer muito diálogo e cujo momento mais importante é admitir que precisamos de ajuda.

Isso fica bem evidente no arco de Maeve, que tenta lidar sozinha com a perda da mãe, carregando consigo todo o fardo que isso representa, até que Aimee, Otis e os demais colegas a ajudam a perceber que não está sozinha e tem toda uma rede de apoio e afeto para lhe oferecer suporte. Nesse sentido a série é bem otimista em mostrar como temos a ganhar exercitando a empatia, a tolerância e o cuidado com os outros e consigo mesmos, sem no entanto, abrir mão da individualidade de cada um. O desfecho da relação de Otis e Maeve pode não agradar todo mundo, mas é bem coerente com a jornada de amadurecimento desses dois personagens e a busca deles por encontrarem seus lugares no mundo.

Com senso de humor e afeto, a temporada final de Sex Education é um belo encerramento para uma série que sempre foi muito cuidadosa com seus personagens e dá a cada um deles desfechos dignos.

 

Nota: 8/10


Trailer

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