Claro, o fato de ter um novo título ao invés de ser uma nova temporada de Castlevania soa como uma decisão estranha, embora as informações sobre royalties em TV e streaming que saíram durante a recente greve de roteiristas revelam que há uma motivação financeira por colocá-la como uma nova série ao invés de ser quinta temporada de Castlevania.
Na trama, durante a revolução francesa o caçador de vampiros Richter Belmont colabora com a revolucionária Maria Renard para eliminar as ameaças sobrenaturais que se escondem na nobreza francesa. Richter busca matar o vampiro Olrox, responsável pela morte de sua mãe quando ele ainda era criança. Aos dois se junta Anette, jovem ex-escravizada da ilha de Santo Domingo abençoada pelos orixás que vai à Europa eliminar as ameaças sobrenaturais usando o poder de Ogum.
Como em outras temporadas, a série tem um claro cuidado com o desenvolvimento de seus personagens, com um ritmo bem deliberado para que entendamos o que move heróis e vilões. Se Trevor já era um caçador bastante calejado na série original, aqui Richter é um pouco menos experiente e ainda marcado pelo trauma de ver a mãe ser assassinada. Claro, ele é um guerreiro habilidoso e se importa com o bem das pessoas, mas ele age mais para provar algo a si mesmo do que por heroísmo. Esses traumas vêm à tona quando Richter reencontra Olrox e seu choro mostra como a dor está longe de ter sido superada.
É um momento de vulnerabilidade emocional que protagonistas desse tipo de história raramente tem a chance de exibir e ajuda a humanizar Richter como alguém dotado de falhas, com medos e limitações tais quais qualquer pessoa. Anette é bem modificada em relação aos games, nos quais ela era meramente um interesse romântico e uma donzela a ser resgatada. Aqui ela é tão capaz quanto Maria e tem uma jornada própria para vingar os ancestrais e resgatar um colega revolucionário.
O fato de Anette ser uma ex-escravizada e sobrevivente da violência colonial, tendo enfrentado os colonizadores (e os vampiros que estavam entre eles) dialoga diretamente com os temas de opressão da revolução francesa. Tanto as elites coloniais como a alta nobreza francesa são retratadas aqui como espaços inundados por vampiros, fazendo das criaturas bebedoras de sangue uma metáfora para a natureza predatória dessas elites. Tal como os vampiros, os nobres e escravagistas não são nada mais do que parasitas vivendo em opulência enquanto drenam a vida daqueles que estão abaixo deles reivindicando superioridade racial ou direito divino, quando esses argumentos não passam de baboseira preconceituosa para justificar sua dominância opressora.
Apesar disso alguns antagonistas tem mais nuance do se simplesmente serem malignos. Confesso que fiquei surpreso em ver o vampiro Olrox genuinamente se apaixonar por um dos cavaleiros da igreja e por resolver, ainda que relutantemente, colaborar com Richter contra os planos da Messias Vampira. O fato da trama colocar essas situações diante do vampiro e ainda assim não levar isso para uma trama de redenção, sempre nos lembrando do predador implacável que Olrox é ajuda a dar nuance e evitar que tudo caia em maniqueísmos simples.
Como na série original, a ação continua sem economizar na brutalidade e no sangue, ressaltando o quão violentas são as criaturas da noite conjuradas pelos vilões (algo reforçado também por seus designs bizarros) e também as habilidades dos heróis. A mescla de magia com itens típicos do clã Belmont que compõem o estilo de luta de Richter ajuda a diferenciá-lo de Trevor, enquanto que as habilidades místicas de Anette oferecem algo diferente da magia elemental que vimos até agora do mesmo modo que as várias criaturas conjuradas por Maria.
Ampliando a mitologia dos games e
também da série anterior Castlevania:
Noturno continua a entregar personagens envolventes e ótimas cenas de ação.
Nota: 8/10
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