A trama é protagonizada por Brynn (Kaitlyn Dever), uma jovem solitária que recentemente perdeu a mãe e que guarda um trauma de infância em relação à morte de uma amiga próxima. Uma noite sua casa é invadida por uma estranha criatura alienígena que tenta atacá-la e agora Brynn precisa lutar para sobreviver.
Filmes com protagonistas isolados normalmente usam expedientes como o personagem gravando uma mensagem ou se comunicando com alguém para ter alguma desculpa desse personagem sozinho falar sobre o que acontece consigo. Ninguém Vai Te Salvar não tenta fazer esse tipo de malabarismo e Brynn não fala durante o filme todo, deixando que seu rosto e outros elementos do cenário contem a história da solidão e traumas da personagem.
Não é fácil para uma atriz evocar um amplo alcance de emoções usando apenas o rosto, mas Kaitlyn Dever dá conta de nos fazer sentir o desespero, a angústia, o luto e a solidão de Brynn mesmo sem dizer uma palavra. O modo como ela age também nos dá pistas da situação da personagem e a relação que a jovem tem com os problemas do passado. De certa forma a trama é tanto sobre sua sobrevivência dessa invasão alienígena quanto uma jornada para que ela enfim confronte e fique em paz com eventos do passado que levaram à morte de uma amiga.
A produção também é eficiente no clima de terror. Muito é do design das criaturas que se baseia em visuais clássicos de ETs com pele cinzenta, cabeça grande e olhos negros, mas adiciona outros elementos, como membros longos e poderes telecinéticos que os fazem soar estranhos e letais. Há um clima palpável de paranoia no qual qualquer um pode ser um ET e as criaturas podem sair de qualquer lugar.
É interessante também como a trama consegue ir por caminhos inesperados. De início pensei que a narrativa toda iria se passar dentro da casa, com Brynn tentando evadir os ETs, mas logo o filme resolve isso e vai adicionando novas camadas de conflito. Sempre que parece que a trama chegou a um ponto onde não parece ter mais para onde ir, o filme consegue criativamente oferecer novos rumos. A exceção acaba sendo o clímax, já que em vários momentos parece que o filme vai acabar apenas para a trama inserir uma nova cena.
O final, inclusive, se constrói como algo que deseja ser aberto a interpretação e ser teorizado. Fica mais a impressão, no entanto, de um final vago feito de propósito para viralizar teorias sobre o desfecho do que uma obra aberta que deixa a resposta de algum dos temas do filme (como o luto) ao sabor da subjetividade do espectador para não simplificar um tema muito complexo.
Ainda assim, Ninguém Vai Te Salvar é um eficiente terror por conta de seu clima
de tensão e isolamento além de um performance dedicada de Kaitlyn Dever.
Nota: 7/10
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