terça-feira, 31 de outubro de 2023

Rapsódias Revisitadas – O Estranho Mundo de Jack

 

Análise Crítica – O Estranho Mundo de Jack

Review – O Estranho Mundo de Jack
Embora muita gente pense ser um filme dirigido pelo Tim Burton, a animação stop motion O Estranho Mundo de Jack foi produzida pelo diretor e escrita a partir de um argumento desenvolvido por ele. A confusão, no entanto, é compreensível, já que o nome dele era sempre usado na divulgação quando o longa foi lançado em 1993 e também porque ele tem vários elementos que encontrávamos nos filmes do diretor ali no final da década de 80 e início dos anos 90.

A trama se passa na Cidade do Halloween, um lugar habitado por criaturas que vivem para assustar e trazer o Halloween para o nosso mundo. Se destacando entre os habitantes está o esqueleto Jack, considerado o Rei Abóbora e principal referência da cidade em sustos. Apesar de ser admirado por todos na cidade, passar ano após ano pensando apenas no Halloween faz Jack se sentir vazio. Vagando pela floresta nos arredores da cidade, Jack encontra portais para as cidades de outras datas comemorativas e entra na Cidade do Natal. Lá ele se encanta pelas luzes e cores natalinas e decide que o próximo Natal será feito por sua cidade. A questão é que os aterrorizantes habitantes da Cidade do Halloween não entendem exatamente o espírito natalino e veem tudo como mais uma oportunidade de assustar.

A primeira coisa que chama a atenção são as canções compostas por Danny Elfman. Desde o primeiro número musical que nos apresenta à cidade em This is Halloween entramos em um universo marcado pelo senso de fascínio e macabro estranhamento que as canções de Elfman (especialmente em suas colaborações com Burton) costumam evocar. Com letras e batidas que ficam na cabeça, é difícil não se deixar levar já na primeira canção e embarcar em todas as outras, como na pura alegria da canção em que Jack descobre o Natal ou no misto de deslumbramento e temor com o qual o esqueleto apresenta o Natal à sua cidade.

A Cidade do Halloween tem um visual bastante inspirado da arquitetura gótica, com vitrais, torres e pináculos, além de remeter também no expressionismo alemão com suas formas distorcidas que parecem saídas de um delírio ou pesadelo. Esses elementos são usados para fazer as paisagens do local soarem bizarras ou aterrorizantes ao mesmo tempo em que as dota de uma estranha beleza, como na cena em que Jack canta no topo de um morro curvado sob a luz da lua. Nesse sentido, há um claro contraste com as cores marcantes e matizes saturadas usadas na Cidade do Natal que tem uma atmosfera muito mais alegre.

É fácil se conectar ao arco de Jack e seu sentimento de vazio existencial depois de anos fazendo o mesmo trabalho ao ponto em que não se sente mais desafiado por ele, tentando se apegar a qualquer coisa diferente, como o Natal, mesmo que não seja a tarefa ideal para alguém como ele executar. Sua jornada é perceber que seu senso de vazio não se dava pelo trabalho em si, mas pela falta de alguém com quem compartilhar suas vivências, algo que ele acaba encontrando em Sally, que sempre foi apaixonada por ele, mas que Jack nunca percebeu. É um lembrete de que as vezes a felicidade que buscamos está mais perto do que imaginamos.

Com visuais marcantes, canções memoráveis e personagens carismáticos, O Estranho Mundo de Jack segue sendo uma animação encantadora mesmo trinta anos depois de seu lançamento, servindo simultaneamente como filme de Halloween e de Natal.


Trailer


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