A trama se baseia na história real de Keith Gill (Paul Dano), bancário e analista financeiro que percebeu em 2020 que o mercado estava subvalorizando as ações da loja de games Gamestop. A franquia de lojas se mantinha aberta durante a pandemia por vender dispositivos eletrônicos considerados de primeira necessidade, mas grandes fundos de investimento compravam ações da empresa a descoberto apostando em sua queda. A tese de Gill era de que o mercado estava criando uma espécie de “profecia auto realizável”. Ao apostar bilhões na desvalorização, eles instigariam o resto do mercado a apostar junto, efetivamente fazendo outras pessoas investirem na queda das ações, quebrando a empresa, desempregando milhares e fazendo esses bilionários ainda mais ricos sem terem produzido efetivamente nada.
Ao comunicar sua tese em um fórum de investimentos financeiros no Reddit, Gill ganhou atenção de milhares de seguidores que se interessaram na ideia de comprar e manter as ações independente das operações a descoberto para jogar o valor para cima, protegendo a Gamestop e causando prejuízos a alguns bilionários rentistas no processo. As coisas saíram como Gill imaginara, mas quando grandes fundos passaram a perder bilhões com a valorização das ações os gerentes desses fundos como Gabe Plotkin (Seth Rogen) ou Ken Griffin (Nick Offerman) passaram a usar seu poder e influência para fazer o Reddit fechar seu fórum e atrapalhar as operações da plataforma de corretagem Robinhood, usada pela maioria dos compradores com poucos recursos.
É uma narrativa que vale a pena ser conhecida por ilustrar como o mercado financeiro existe apenas para manter os ricos mais ricos e que apesar de todo o discurso sobre “mão invisível” a verdade é que tem mão bem visíveis guiando os rumos do mercado e manipulando os resultados a seu interesse. A trama também revela a hipocrisia desses bilionários que enchem a boca para falar de livre mercado, mas correm para os órgãos do Estado ou mesmo para parceiros influentes ou o poder de sua própria riqueza para direcionar as forças de mercado para seus ganhos.
Apesar de conter um importante indiciamento dos vícios do mercado financeiro, o filme derrapa em um excesso de didatismo com seus diálogos e com um excesso de personagens que por vezes soa redundante. Ao acompanhar vários assalariados que investiram na Gamestop a partir dos conselhos de Gill, o filme conta várias histórias similares cuja soma não é um maior impacto de sua denúncia e sim a sensação de que o filme anda em círculos.
A impressão é que o filme salta constantemente entre vários personagens para tentar construir uma sensação de dinamismo na narrativa e não ficarmos muito tempo com os mesmos personagens em salas fechadas discutindo finanças. O efeito, no entanto, é uma trama sem foco. Ocasionalmente a montagem empregada pelo diretor Craig Gillespie (de Eu,Tonya) acerta ao construir oposições entre o cotidiano humilde de pessoas como Gill, Jenny (America Ferrera) ou Marcos (Anthony Ramos) e a opulência das vidas de Plotkin, Griffin, Cohen (Vincent D’Onofrio) e outros bilionários que vivem de manipular o mercado (destruindo empresas e empregos no processo) apenas para ficarem mais ricos.
Paul Dano consegue trazer sinceridade e argúcia a Gill, um sujeito que apenas estava tentando aproveitar uma oportunidade e acidentalmente se viu no centro de um movimento político devotado a ferrar os bilionários e mostrar como o jogo do mercado financeiro é viciado. Dano dá a Gill uma aura de homem comum que torna compreensível o modo como ele se sente sobrecarregado com o volume de atenção que recebe, principalmente quando passa a ser pressionado pelas autoridades, mas cuja inteligência e convicção nunca vacilam a despeito das demandas externas.
No fim, Dinheiro Fácil
vale por trazer uma importante reflexão sobre os vícios do mercado financeiro e
como ele existe para enriquecer os mais ricos, cuja denúncia acaba perdendo
contundência pela trama difusa e excesso de didatismo.
Nota: 6/10
Trailer
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