A trama é centrada em Marie (Jaz Sinclair), uma jovem que cresceu em um orfanato da Vought depois de acidentalmente matar os pais quando descobriu seus poderes de controlar sangue com a mente. Misteriosamente ela recebe uma bolsa para estudar na universidade Godolkin, instituição que forma as próximas gerações de heróis da Vought. Lá ela começa a fazer amizade com a colega de quarto, Emma (Lizze Broadway), ao mesmo tempo em que desperta tensões com os alunos mais populares. As coisas se agravam quando Golden Boy (Patrick Schwarzenegger), o aluno mais popular, mata um dos professores e depois se mata. Isso coloca Marie e outros colegas para investigar o que aconteceu e os coloca no centro de uma conspiração da Vought.
De início parece mais uma história que usa a descoberta e controle de poderes especiais como uma metáfora para adolescência e juventude. Não deixa de ser isso, a exemplo dos poderes de encolher de Emma e como isso ilustra transtornos alimentares, no entanto, a trama também usa esses elementos para tecer comentários sobre a sociedade atual com o mesmo senso de exagero e absurdo que The Boys.
O cenário da universidade serve para mostrar como, neste universo, os heróis existem mais como figuras midiáticas, feitas para vender produtos ou estrelarem filmes, do que efetivamente combater o crime. A narrativa mostra como pouquíssimos deles são treinados para serem super-heróis com boa parte das aulas focando mais em atuação ou em como conseguir seguidores. Os experimentos que ocorrem no subterrâneo da faculdade para gerar heróis mais poderosos (como o caso de Golden Boy) e mecanismos para controlar os supers sedimenta como a Vought os vê como produtos e a ideia de um vírus letal para quem tem poderes conecta diretamente a várias tramas e personagens de The Boys.
Mais que isso, a série traz discussões sobre a ascensão do fascismo nos Estados Unidos e como meios de comunicação de massa podem ser usados para alienar a população e moldar a percepção de verdade. Vemos isso nos primeiros episódios quando Marie e Andre (Chance Perdomo) são tratados pela imprensa como os heróis que salvaram Godolkin de Golden Boy quando na verdade foi Jordan (Derek Luh/London Thor) quem o enfrentou, mas a Vought considera o modo como Jordan troca de gênero para usar seus poderes como algo “difícil de vender para o grande público”. Do mesmo modo o debate sobre o governo ter uma agência que supervisiona os supers mostra como o discurso supremacista do Capitão Pátria (Anthony Starr) em The Boys atingiu essa nova geração de heróis que se vê como acima da humanidade.
Ainda assim, a trama evita maniqueísmos fáceis através do arco de Sam (Asa Germann). Tendo crescido num laboratório, sendo maltratado e alienado da sociedade a vida toda, Sam encontra nesse discurso reacionário de supremacia dos supers um senso de propósito, pertencimento e comunidade que nunca tinha experimentado antes, mostrando como esse tipo de retórica extremista é calibrada para apelar para as frustrações e sentimentos de inadequação de pessoas marginalizadas ou ignoradas pela sociedade.
Assim como em The Boys, a série acerta ao dar a cada personagem uma motivação compreensível para suas ações, mesmo que estas sejam cruéis. Shetty (Shelley Conn), a reitora de Godolkin, tem um passado que nos faz entender porque ela instiga o Dr. Cardosa (Marco Pigossi) a criar um vírus para exterminar todos os supers. Do mesmo modo, Cate (Maddie Phillips) exibe uma solidão e vulnerabilidade emocional que nos fazem entender o porquê dela ter cumprido ordens da reitora durante tanto tempo e manipulado Golden Boy e Andre do jeito que fez. Aliás, Cate dá uma guinada surpreendente ao longo da série, já que de início ela não parece ser muito mais do que um interesse romântico e aos poucos se estabelece como uma das mais perigosas antagonistas.
A ação traz a mesma ultraviolência que The Boys, com corpos despedaçados e partes de corpos sendo despedaçadas que servem para mostrar o poder desses indivíduos e também nos surpreender com a criatividade mórbida da série. O melhor exemplo é quando Marie usa seus poderes de sangue para explodir o pênis de um colega que tenta abusar dela. Cenas como essa misturam o grotesco com certa comicidade exagerada, tal como na sequência em que Sam destrói uma tropa inteira da Vought, mas tudo é mostrado como se os envolvidos fossem fantoches ao estilo Muppets. O fim da temporada, porém, acaba sendo um pouco abrupto, finalizando a batalha em Godolkin com um corte súbito que acaba sendo um pouco anticlimático.
Ácido, violento e com personagens
interessantes, a primeira temporada de Gen
V não apenas consegue se provar como um bom derivado de The Boys, mas como uma boa série em seus
próprios méritos.
Nota: 8/10
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