A trama retoma ao ponto em que o ano anterior terminou, com Loki (Tom Hiddleston) retornando à AVT, mas uma versão diferente àquela em que estava e agora ninguém o reconhece. Loki se dá conta de que está aleatoriamente viajando através do tempo e O.B (Ke Huy Quan), o responsável por boa parte da tecnologia da AVT, lhe avisa que isso pode estar relacionado com a energia emitida pelo Tear Temporal, mecanismo que constrói as linhas do tempo, que saiu do controle desde que Sylvie (Sophia di Martino) matou Aquele Que Permanece (Jonathan Majors). Agora Loki precisa restaurar o Tear para salvar a si mesmo e o multiverso.
Os primeiros quatro episódios parecem mais uma corrida contra o tempo para resolver o McGuffin da temporada sem muita preocupação em continuar desenvolvendo as relações entre Loki, Mobius (Owen Wilson), Sylvie e os demais personagens, um elemento que fora o principal da temporada de estreia. Sem essa impressão de progresso para a jornada de aprendizado do protagonista, não sobra muita coisa para a série além de um monte de diálogos expositivos cheios de termos inventados para tentar explicar as arbitrariedades e conveniências narrativas envolvendo viagens no tempo, multiverso ou os novos poderes de Loki.
Esses quatro episódios iniciais também carecem da inventividade visual e paisagens bizarras que tornaram a primeira temporada tão interessante. Mesmo a AVT não tem aqui nada de muito marcante em relação ao que vimos antes. Talvez porque o senso de ineditismo desse lugar já passou. É só a partir do quinto e penúltimo episódio que as coisas começam a melhorar.
Deixando de lado boa parte da baboseira temporal que tomou a temporada até aqui, o episódio diminui o ritmo para focar na dinâmica de Loki com seus aliados da AVT e a contínua busca do personagem por um rumo depois de entender na temporada anterior que suas ambições de gloriosa conquista jamais se concretizariam. Esse é um Loki que aos poucos vai entendendo que as vidas daqueles com quem se importa são mais valiosas do que qualquer glória ou conquista.
O desenvolvimento do quinto episódio serve tanto para construir as motivações de Loki daí em diante como também em nos fazer entender o que move personagens como Mobius ou B-15 (Wunmi Mosaku) a servirem na AVT. Tudo isso culmina no final de temporada (e talvez da série) em que finalmente encerra seu arco de redenção.
Ao tentar desesperadamente se deslocar no tempo para consertar o Tear, Loki se dá conta de que estava preso em mais uma armadilha d’Aquele Que Permanece. Ou Loki salvava o habitante do fim do tempo às custas da vida de Sylvie ou o tempo continuaria a se desfazer. A questão é que fazer isso, acabaria para sempre com a possibilidade de várias linhas do tempo, eliminando a existência de várias pessoas.
É diante desse cenário sem vitória possível que Loki reavalia a ideia de “carregar o fardo de um glorioso propósito”. Ao voltar no tempo para sua primeira conversa com Mobius, Loki é lembrado que agir segundo um propósito carrega mais fardos do que glórias. É aí que ele se despe (metafórica, mas também literalmente já que a energia temporal destrói suas roupas revelando seus velhos trajes asgardianos) de toda sua vaidade, ego ou desejo de poder para agir apenas em prol daqueles que ama.
A vida inteira ele cobiçou um trono para mostrar a si e aos outros seu poder e valor. Desejou glória e poder para fins egoístas e sempre fracassou. Então não deixa de ser carregado de ironia dramática que ele finalmente consiga seu trono ao centro do universo ao agir não por glória, mas por sacrifício. Ao abrir mão de tudo para manter vivo o multiverso e energizar o caos de várias linhas do tempo Loki finalmente está no comando de Yggdrasil, a árvore do universo, como sempre desejou. Ele agora não está mais preocupado em receber as glórias, mas carregar o fardo de manter esse multiverso funcionando para o bem daqueles que valoriza. É um desfecho que não deixa de ecoar os ideais de poder e responsabilidade tão comuns nas tramas da Marvel e que encerra muito bem todo o arco de Loki desde sua primeira aparição, consolidando-o como um dos personagens mais interessantes do MCU.
Tudo bem que o modo pelo qual Loki é capaz de fazer tudo o
que faz nunca é plenamente explicado e parece estar ao sabor do roteiro, mas um
bom final comumente nos faz ignorar algumas falhas por conta da satisfação que
o encerramento nos traz. Apesar de bem irregular em seus primeiros episódios, a
segunda temporada de Loki constrói tão bem seu desfecho que acaba
valendo a pena.
Nota: 6/10
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