O filme toma algumas liberdades com a história real, mas mantem a base de mostrar a ascensão e queda de uma empresa da Flórida que rapidamente ganhou milhões ao produzir um medicamento a base de fentanil que funcionava através de um inalador sublingual fazendo o medicamento agir mais rápido. A trama é protagonizada por Liza (Emily Blunt), uma mãe divorciada e desempregada que conhece o representante farmacêutico Pete (Chris Evans), que a contrata como vendedora para tentar penetrar o mercado da Flórida. Liza consegue convencer médicos a receitarem o medicamento a pacientes com câncer terminal e logo eles desenvolvem um esquema para recompensar os médicos que receitam suas drogas, estimulando que receitem também em casos que não se enquadram na bula.
O filme mostra a opulência do mercado farmacêutico e como os marcos regulatórios frouxos permitem basicamente subornar os médicos. Nesses momentos o filme parece buscar uma abordagem similar a O Lobo de Wall Street (2013), usando a comédia para debochar desse universo de excessos. A questão é que falta exagero, absurdo e devassidão nessas cenas, falhando em evocar o senso devassidão grandiloquente que o filme de Scorsese fez tão bem. Tudo bem que Chris Evans é ótimo em conferir um charme picareta a Pete, um sujeito que sabe as fronteiras éticas que está cruzando, mas que não dá a mínima desde que o dinheiro flua a seu favor.
Por outro lado, a narrativa tenta construir um sério indiciamento da falta de ética dessa indústria que explora o sofrimento das pessoas vendendo uma droga extremamente potente e viciante para qualquer um ocultando os riscos e contraindicações. Essa denúncia não sai da superfície em mostrar a ganância das empresas e médicos e não chega a ter o impacto ou contundência de uma produção como Dopesick. Emily Blunt segura bem os momentos mais dramáticos, em especial quando o filme explora a relação de Liza com a filha, Phoebe (Chloe Coleman), embora o problema neurológico da filha acabe não tendo muito impacto na narrativa além de servir como elemento motivador da protagonista.
No fim das contas, Máfia da Dor é uma sátira sem deboche e
uma denúncia sem impacto que só não afunda no puro tédio devido ao trabalho de
Emily Blunt e Chris Evans.
Nota: 5/10
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