As coisas se complicam quando seu cachorro é sequestrado por agiotas para quem sua mãe viciada em jogo deve dinheiro. Como a mãe de Anne fugiu do país e voltou para a China, o agiota resolve cobrar de Anne e sequestra seu cachorro para obrigá-la a pagar. A irresponsável irmã mais velha de Anne, Jenny (Sandra Oh), a encoraja a participar do programa que assiste diariamente para levantar o dinheiro. Assim as duas iniciam uma viagem pelo país para tentar entrar no programa.
Como em muitos road movies, o roteiro usa encontros e eventos fortuitos ao longo da viagem como um meio de colocar para fora os conflitos entre as duas irmãs e os problemas que elas tiveram desde o divórcio dos pais, em especial pelo modo como a mãe as abandonou. É óbvio desde o início que ambas irão aprender algo uma com a outra a partir do choque de suas personalidades opostas, com Jenny ensinando Anne a ser mais confiante e Anne ensinando a irmã a ser mais responsável.
Ainda assim o filme funciona pela sua inventividade em constantemente nos apresentar a personagens excêntricos como o dono de uma pousada temática que se veste como Benjamin Franklin ou a mau humorada vizinha idosa de Anne que confunde Paul Reubens com Alan Cumming. O que envolve, no entanto, acaba sendo o elenco. Awkwafina já tinha mostrado em A Despedida (2020) que pode muito bem fazer papéis dramáticos e volta a demonstrar isso aqui. Com uma postura curvada, ombros levantados e olhar sempre baixo, Anne se porta como alguém que não quer ser vista e está constantemente voltada para dentro de si mesma. Já Sandra Oh constrói Jenny como alguém cuja idade mental parece estar mais de dez anos defasada em relação à sua idade real, algo ilustrado não apenas pela conduta imatura da personagem, mas pelas roupas e cabelos que ela usa e que soam como algo roubado do armário de uma adolescente.
As duas atrizes nos fazem sentir como se de fato houvesse anos de bagagem emocional entre elas, de traumas e frustrações, passando a memórias afetuosas, convencendo da relação complicada de suas personagens. O elenco coadjuvante é igualmente competente, com destaque para Will Ferrell como o apresentador Terry McTeer, que é claramente no finado Alex Trebek, apresentador do programa Jeopardy. Ferrell já tinha mostrado que podia fazer um bom Trebek em suas imitações do apresentador nos esquetes do Celebrity Jeopardy do Saturday Night Live e aqui interpreta uma versão mais “séria” de seu Trebek, conferindo a ele uma energia ingênua e um calor humano que nos fazem entender porque uma criança como Anne se apegaria a ele como uma figura quase paternal na ausência dos pais. Jason Schwartzman diverte como o principal concorrente de Anne. Usando o que parece ser a mesma prótese dental exagerada de Stanley Tucci em Jogos Vorazes, Schwartzman faz um babaca egocêntrico que tenta se fingir de descolado, mas que mal consegue disfarçar o quanto é autocentrado.
Mesmo sendo um pouco previsível, Quiz Lady tem afeto, senso de humor e personagens suficientemente excêntricos para nos manter interessados na jornada de autodescoberta de suas personagens. Pode não desafiar nossas expectativas, mas desempenha bem sua função de fazer sua audiência se sentir bem conforme os créditos começam a subir.
Nota: 6/10
Trailer
Nenhum comentário:
Postar um comentário