Em seus stand-ups o comediante Bill Burr se tornou famoso por seu “humor de reclamação” no qual ele vai em longas e irritadas tiradas reclamando de algo do cotidiano. Ele não é o primeiro a fazer isso, Lewis Black vem fazendo isso há anos, por exemplo. A questão é que nem tudo que funciona num palco de stand-up comedy funciona em uma narrativa de ficção e Tiozões, escrito, dirigido e estrelado por Burr é um exemplo disso.
A trama segue três pais de meia-idade, Jack (Bill Burr), Connor (Bobby Cannavale) e Mike (Bokeem Woodbine) que se sentem deslocados em um mundo em que seu chefe é mais novo que eles e qualquer comentário pode ser problematizado. Podia ser uma oportunidade para falar de conflitos geracionais e fazer piada com isso, mas vai numa direção de um coitadismo tosco de tentar dizer que homens brancos de meia idade estão sendo excluídos e mal tratados pela sociedade, o que está longe de ser o caso.
Aqui e ali Burr encontra ideias interessantes, como apontar para os modos em que as pessoas transportam para o nosso cotidiano a maneira de interagir via internet, constantemente querendo sinalizar virtude e promovendo linchamentos morais por qualquer coisa. A longa reclamação irritada de Jack sobre vape ser sim a mesma coisa que fumar ou sobre pessoas adultas andando de patinete na rua são momentos divertidos em que Burr usa bem sua comédia ranzinza e irritadiça.
Esses momentos, no entanto, são pouco para reduzir a impressão de que o filme quer que sintamos pena desse bando de homens velhos imaturos cujos problemas surgem de seu próprio comportamento babaca. No fim a trama segue a lógica de comédias de Adam Sandler, em que um homem imaturo trata mal todos ao seu redor, incluindo seu interesse amoroso (as esposas são tratadas meramente como reclamonas e castradoras) até que todos ficam fartos da babaquice dos protagonistas e ele faz um grande gesto de desculpas no qual tudo é facilmente perdoado.
Perto do final a trama até tenta
dar algumas camadas ao jovem chefe dos protagonistas ou às esposas, mas é muito
pouco muito tarde. Todo o conflito de Jack com a esposa é resolvido rápido e
fácil demais. O drama não funciona porque durante boa parte do filme esses
personagens são tratados como caricaturas, então na hora de injetar neles
alguma humanidade tudo soa apressado. Assim, Tiozões é uma comédia que pouco faz rir, apelando para sensos
comuns batidos sobre conflitos de gerações.
Nota: 4/10
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