quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Crítica – Acampamento de Teatro

 

Análise Crítica – Acampamento de Teatro

Review – Acampamento de Teatro
Inspirado no curta-metragem de mesmo nome, Acampamento de Teatro remete a comédias dos anos 80 sobre acampamentos de férias cujas tramas giravam em torno de salvar um acampamento humilde, mas adorado pelos veranistas, da falência ou de ser comprado pelo acampamento dos ricos esnobes. Ele segue essa mesma premissa, misturando com uma estrutura de falso documentário e um humor que parodia o universo do teatro musical.

Durante décadas Joan (Amy Sedaris) dirigiu um acampamento de férias dedicado a crianças que queriam estudar teatro. Embora humilde, o local era adorado pelas crianças, mas quando Joan sofre um derrame, seu filho influencer, Troy (Jimmy Tatro), assume a gestão do local implementando mudanças e cortes de gastos para tentar salvar o local da falência. Demitindo boa parte dos instrutores, cabe aos professores remanescentes, Amos (Ben Platt) e Rebecca-Diane (Molly Gordon, que fez a namorada do Carmy em O Urso), tentarem manter o local funcionando a contento e organizar um espetáculo em homenagem a Joan.

A estrutura de falso documentário usa de maneira recorrentes letreiros ou legendas para gerar comicidade. Quando Troy elogia o currículo vasto de Janet (Ayo Edebiri), a nova instrutora que ele contratou para substituir os professores demitidos, uma legenda logo aparece no canto da tela informando que Janet mentiu completamente no currículo, com as explicações desajeitadas da personagem sobre sua experiência reforçando o absurdo.

Ben Platt e Molly Gordon divertem pela intensidade excessiva que conferem aos seus professores de teatro, que se comportam mais como docentes de um conservatório severo do que como instrutores de uma colônia de férias. Os dois atores deixam transparecer em muitos momentos como essa intensidade deriva de ambos serem artistas frustrados, que nunca deram certo como atores de teatro e projetam nos alunos suas frustrações. Os exemplos que ambos dão de como não devem se comportar são tão específicos que claramente vem de experiências prévias desses personagens.

Por trás desse caos, no entanto, é possível ver que os dois (assim como Joan e outros instrutores) tem uma paixão verdadeira pelo teatro e um cuidado genuíno pelas crianças sob sua tutela, justificando o porquê do local ser tão adorado pelas crianças e sobreviver a tanto tempo a despeito dos problemas financeiros. Apesar de parodiar todo o universo do teatro musical, com os clichês das histórias ou a afetação das atuações, o filme é também uma celebração desse universo, com versões bem competentes cantadas pelo elenco mirim de sucessos como Sweeney Todd ou Wicked e quem for nerd de teatro musical como eu encontrará muito o que apreciar no modo como o filme dialoga com tudo isso.

O final com o musical inspirado na vida de Joan é um exemplo de como o filme quer celebrar o encantamento do teatro musical, ainda que com senso de humor. Se fosse plenamente algo dedicado ridicularizar o teatro era só fazer ser um completo desastre, mas ao fazer da peça um sucesso que inspira doações para salvar o acampamento (ainda que a motivação das doações não seja a esperada) a narrativa equilibra bem a sátira e a homenagem.

Assim, apesar de se estruturar ao redor de uma premissa batida, Acampamento de Teatro diverte pelo uso bem humorado da estrutura de falso documentário e do afeto genuíno que demonstra pelo universo dos musicais teatrais.

 

Nota: 7/10


Trailer

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