terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Crítica – Priscilla

 

Análise Crítica – Priscilla

Review – Priscilla
O Elvis (2022) de Baz Luhrmann focava tanto na relação do rei do rock com o Coronel Parker que Priscilla Presley, esposa do cantor, virava basicamente uma nota de rodapé na história. Em Priscilla a diretora Sofia Coppola decide contar a história dela e de como a relação com Elvis a afetou.

A narrativa se baseia no livro autobiográfico de Priscilla Presley, acompanhando Priscilla Beaulieu (Cailee Spaeny) desde sua adolescência, quando conhece um Elvis (Jacob Elordi, de Euphoria e A Barraca do Beijo) já adulto durante o período em que ele serviu no exército, até os anos finais de seu casamento com ele. Sob o olhar de Coppola, a história de Priscilla é narrada como a de alguém presa em uma gaiola de ouro. Por mais que ela tivesse tudo que o dinheiro pudesse proporcionar, isso não a impedia de se sentir solitária e infeliz, já que sua existência era reduzida a ser um bibelô nas mãos de Elvis.

É um olhar sobre o vazio e o tédio de uma jovem inadvertidamente jogada em um universo de riqueza para ser tratada como objeto que remete a outros filmes de Sofia Coppola, como a personagem de Scarlett Johansson em Encontros e Desencontros (2003) ou Maria Antonieta (2006). Priscilla é constantemente colocada sozinha no quadro, construindo seu senso de isolamento e alienação, amplificando isso com o uso de planos abertos a partir do momento em que ela vai para Graceland que ressaltam como aquela opulência pode soar opressiva, vazia e solitária.

A relação com Elvis é mostrada desde o início como algo pouco saudável e uma dinâmica manipulativa, com um homem mais velho controlando sem muita dificuldade uma menina imatura que não tinha nem entrado no colegial. É visível o modo como Elvis mobiliza o ego da garota ao fazê-la se sentir importante no modo como ele parece se abrir para ela ou como a deixa insegura ao comentar detalhes sobre sua aparência, conseguindo controlar como ela se veste ou como usa o cabelo. Ainda assim o filme evita um retrato unidimensional de Elvis, mostrando que, ao modo dele, havia um amor genuíno por Priscilla ainda que ele a visse sob um olhar machista que sempre cobrava submissão.

Nesse sentido, a escalação de Jacob Elordi que tem quase dois metros de altura e é bem mais alto do Elvis era, serve para ressaltar ainda mais a diferença de idade entre Elvis e Priscilla, fazendo o rei do rock parecer imenso perto da diminuta esposa, como também o faz parecer mais intimidador. Isso ajuda a dar mais severidade nas cenas em que Elvis é agressivo com a esposa, nos colocando sob a ótica de Priscilla diante da fúria de um homem muito maior do que ela.

Priscilla aos poucos aprende a navegar no universo de Elvis, evitando reduzir a personagem a uma vítima ou a meramente reagir, como fica evidente na cena em que Elvis pede a ela que deem um tempo no casamento e Priscilla friamente aceita, sabendo que a pergunta era uma maneira do marido exercer controle sobre ela e ao manifestar independência ela o deixa inseguro. Apesar de mostrar como ela percebe que a sombra de Elvis a sufoca, o desfecho exibe de maneira excessivamente súbita a escolha de Priscilla em pedir o divórcio. A decisão de encerrar com ela indo embora de Graceland, sem mencionar mesmo em cartelas de texto, a carreira de atriz ou outras realizações de Priscilla dá a impressão de que ela de fato não foi nada além de esposa de Elvis, quando na verdade ela conseguiu desenvolver uma carreira própria.

Apesar do encerramento anticlimático, Priscilla ainda assim se mostra um competente estudo de personagem que analisa como uma criança foi enredada na vida de Elvis Presley e da dinâmica pouco saudável dessa relação.

 

Nota: 7/10


Trailer

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