Os trailers de Argylle:
O Superespião não me despertaram nenhum interesse em assistir o filme. Ainda
assim, tinha alguma esperança que pudesse ser bacana pela condução de Matthew
Vaughn. Tendo visto o filme, porém, posso dizer os trailers dão uma impressão errada
do produto final. Na verdade ele é ainda pior e mais estúpida.
A trama é protagonizada por Elly (Bryce Dallas Howard),
escritora responsável por criar o personagem literário Argylle (Henry Cavill)
que se tornou um sucesso mundial. Durante uma viagem de trem ela é abordada
pelo espião Aidan (Sam Rockwell) e descobre que seus livros narravam uma
conspiração internacional verdadeira. Agora ela e Aidan correm contra o tempo
para encontrar um arquivo que irá expor uma unidade de espiões renegados dentro
da CIA.
Faz tempo que um filme de terror me deixa com um senso tão
forte de que os personagens estão cercados por uma presença maligna tão potente
que não há esperança de sobrevivência. A produção argentina O Mal Que Nos Habita não apenas é
eficiente em nos fazer sentir o poder do mal, mas como o mal se espalha no
mundo justamente por conta das ações humanas.
A narrativa acompanha os irmãos Pedro (Ezequiel Rodríguez) e
Jimi (Demián Salomón) que vivem em uma cidade pequena no interior da Argentina.
Quando eles descobrem que uma pessoa da vila foi infectada por forças
demoníacas e está prestes a gerar um demônio, eles decidem mover o sujeito da
cidade na esperança de livrar o local da influência maligna. A ação, no
entanto, só faz o mal se espalhar por suas vidas.
O filme é inteligente ao definir alguns parâmetros de como
essas entidades malignas agem para que saibamos exatamente do que ter medo e
quais situações são perigosas ao mesmo tempo em que evita explicar demais ou
criar uma mitologia muito aprofundada ao ponto em que não há mais o mistério ou
incerteza quanto ao desconhecido. Entendemos como esse mal age manipulando os
medos das pessoas enquanto simultaneamente soa como algo que escapa nossa
compreensão plena, mantendo um grau de imprevisibilidade que é importante para
nos deixar imersos nos horrores que o filme nos apresenta.
Uma mulher artificial sai de sua existência protegida para
experimentar o mundo real e vivencia os desafios de uma mulher. Essa é a
premissa de Barbie (2023), mas se
aplica também a Pobres Criaturas,
novo filme do diretor grego Yorgos Lanthimos. Como em outros filmes do
realizador, a trama é permeada por um olhar ácido sobre a existência humana e
um senso de humor bastante sombrio.
A trama é focada em Bella (Emma Stone), uma garota criada
pelo cientista Godwin (Willem Dafoe) a partir de um cadáver reanimado. De
início Bella é como um bebê, andando com dificuldade e balbuciando algumas
poucas palavras. Com o tempo, porém, ela vai se desenvolvendo rapidamente e
Godwin contrata o jovem médico Max (Ramy Youssef) para monitorar o progresso de
Bella. A jovem, no entanto, se cansa da existência excessivamente protegida e
decide fugir da mansão de Godwin, iniciando uma viagem pelo mundo.
Às vezes boas intenções não são o suficiente para sustentar
um produto artístico. Rustin, filme
produzido pela Netflix que visa resgatar um ícone esquecido do movimento negro
e da luta pelos direitos civis dos Estados Unidos. A narrativa conta a história
de Bayard Rustin (Colman Domingo) um dos responsáveis por organizar a marcha de
Martin Luther King (Aml Ameen) para Washington e que foi deixado de fora do
registro histórico por ser homossexual.
O filme traz um resgate histórico importante, dando devido
valor a uma figura fundamental para as mudanças nos direitos civis do país, o
problema é que a produção parece mais interessada nos pormenores da organização
da marcha do que propriamente falar sobre Rustin e sua trajetória. Muito do
filme se passa em longas reuniões discutindo logística, segurança ou
financiamento para os manifestantes, sobrando pouco tempo para entender o seu
biografado.
Todo início de ano chega o momento de fazer um balanço do
ano que passou e pensar nas experiências boas e ruins que tivemos. Com filmes
não é diferente e o início do ano é um bom momento para falarmos dos melhores e
piores filmes que vimos ao longo do ano que passou. Já fiz a lista de piores e
agora vou relembrar os melhores de 2023. A lista leva em consideração apenas
filmes lançados comercialmente no Brasil (em cinema ou streaming) ao longo do
ano que passou.
Baseado em uma história real, Nyad acompanha a nadadora Diana Nyad (Annette Benning) que aos 60
anos tentou atravessar a nado de Cuba para a Flórida, uma façanha nunca antes
feita. A trama é estruturada como uma típica história de superação, mostrando
como Nyad, ainda na juventude, tentou e fracassou no feito e se tornou obcecada
em conseguir a façanha desde então. As noções de nunca desistir, de persistir
em seus sonhos são as ideias centrais da narrativa que não parece muito interessada
em entender o porquê de Nyad desejar com tanto afinco realizar esse feito.
A narrativa se detém mais nos pormenores da façanha do que
aconteceu em cada tentativa e como ela planejou suas tentativas ao lado da
melhor amiga Bonnie (Jodie Foster) e uma equipe de apoio que cresce a cada novo
esforço de realizar seu empreendimento audaz, de navegadores a socorristas
passando por especialistas em predadores marinhos. A produção é eficiente em construir
a tensão e senso de risco de nadar em mar aberto, com animais marinhos e
mudanças de corrente posando riscos constantes e imprevisíveis. Nesse sentido,
a maquiagem acaba sendo um meio de ilustrar o desgaste físico de Nyad,
mostrando como ficar dezenas de horas no mar e sob o sol fazem com a pele de
uma pessoa.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas revelou hoje
(23) os indicados ao Oscar 2024. Oppeheimer
lidera em indicações com 13 menções, enquanto que Pobres Criaturas e Assassinos
da Lua das Flores ficaram em segundo e terceiro lugar com 11 e 10 indicações respectivamente. Barbie recebeu 8 menções. A
cerimônia de premiação acontece em 10 de março e ainda não tem um apresentador
definido. Confiram abaixo a lista completa de indicados.
Os livros de Jack Reacher são como um feijão com arroz bem
temperado. Sim, é uma comida básica, mas satisfaz por trabalhar bem seus
ingredientes. Os livros escritos por Lee Child não fazem muito para desafiar
elementos típicos da literatura de suspense, apenas os executem com competência
suficiente para nos manter interessados. O mesmo vale para a série Reacher, que adapta os livros.
Se o primeiro ano se baseou no primeiro romance protagonizado
pelo personagem, a segunda temporada adapta do décimo primeiro livro do
investigador militar. É fácil entender o salto, já que esse é considerado um
dos melhores livros da série e dá ao espectador a oportunidade de aprender
muito sobre o passado do personagem ao fazê-lo se reencontrar com membros de
sua antiga unidade do exército.
Nossa concepção de amor romântico gira muito em torno da
noção de “alma gêmea”, da ideia de que num mundo com bilhões de pessoas existe
uma única pessoa que está destinada a nós e que quando a conhecermos sentiremos
um amor tão arrebatador que não teremos outra reação que não perceber que essa
é nossa “alma gêmea”. Vidas Passadas,
no entanto, indaga sobre essa concepção pensando o quanto do amor e de
relacionamentos são uma questão de um momento ideal, de encontrarmos uma pessoa
em um tempo específico e em um momento específico e dessa conveniência
espaço-temporal que surgiria um relacionamento duradouro. Quando algo não se
encaixa, mesmo quando há amor, muitas vezes a relação pode não ir adiante e
essas pessoas podem seguir caminhos diferentes, construir vidas com outras
pessoas.
A trama é protagonizada por Nora (Greta Lee), uma mulher
coreana que imigrou para o Canadá quando tinha doze anos, deixando para trás
sua paixão de infância, Hae Sung (Teo Yoo). Alguns anos depois Nora reencontra
Hae Sung pela internet e eles retomam a conexão de juventude, mas eles estão
por demais focados em seus cotidianos e não tem meios para se reencontrarem
presencialmente, então Nora decide se afastar um pouco e dar atenção a carreira
que está começando nos Estados Unidos. Algum tempo depois Nora se casa com o
escritor Arthur (John Magaro) e anos se passam até que ela retome contato com
Hae Sung, que decide ir aos Estados Unidos para vê-la.
Todo início de ano chega o momento de fazer um balanço do
ano que passou e pensar nas experiências boas e ruins que tivemos. Com filmes
não é diferente e o início do ano é um bom momento para falarmos dos melhores e
piores filmes que vimos ao longo do ano que passou. Como gosto de dar as más
notícias primeiro, começarei listando os piores filmes. A lista leva em
consideração filmes lançados comercialmente no Brasil (em cinema ou streaming)
no ano de 2023. Então vamos a eles.
Conforme começo a escrever essas linhas, me pergunto por que
diabos resolvi assisti Lift: Roubo nas
Alturas. Talvez tivesse sido o tédio de um sábado ocioso. Talvez eu seja um
masoquista. A verdade é que tudo nessa produção gritava ser mais um daqueles
filmes descartáveis jogados em streaming que parece ter sido feito por um
algoritmo e o resultado é exatamente esse, uma coleção de clichês sem
personalidade em uma trama que mal se sustenta e ação desinteressante.
Na trama, Cyrus (Kevin Hart) é um infame criminoso
internacional cuja gangue é finalmente pega pela Interpol. A agente Abby (Gugu
Mbatha-Raw), que teve um caso com Cyrus no passado, dá a ele uma escolha: ou
ser preso ou colaborar com a Interpol e ajudar a interceptar um carregamento de
ouro que vai para o criminoso internacional Jorgensen (Jean Reno). Para isso
precisarão planejar um audacioso roubo a um avião em pleno voo.
Não tive lá muito interesse quando soube deste Monarch: Legado de Monstros, série que
se passa no mesmo universo dos filmes recentes de Godzilla e King Kong. A
impressão é que poderia ser mais um caça-níqueis feito para “expandir o
universo”, mas que seria insular às tramas dos filmes e não teria a presença de
nada que vemos nos cinemas. Algo como a série dos Agentes da SHIELD, que apenas mencionava alguns eventos dos filmes
(e depois de um tempo nem isso), mas tinha uma participação marginal nos
acontecimentos do MCU e praticamente nenhuma participação de personagens dos
filmes.
Monarch: Legado de
Monstros, porém, mostrou que eu estava errado. Não só amplia de modo
consistente a mitologia apresentada nos filmes, fazendo conexões entre todas as
produções até agora, como também conta uma história mais interessante do que os
filmes que fez do Godzilla. Parte disso é porque mantem a trama focada em um
grupo restrito de personagens ao invés de se dividir em mais de uma dúzia de
pessoas ao redor do globo.
Nem sempre um bom curta-metragem rende um bom longa. Temos
exemplos em que isso funciona muito bem, como Whiplash: Em Busca da Perfeição(2015), que aprofunda as ideias do
curta original. Por outro lado, filmes como Mergulho
Noturno mostram que algumas ideias se prestam melhor ao formato de
curta-metragem.
A trama, escrita e dirigida por Bryce McGuire a partir de seu
curta metragem de mesmo nome, acompanha a família de Ray (Wyatt Russell), um
jogador de baseball que teve que abandonar a carreira depois de descobrir que
tem esclerose múltipla. Como os médicos recomendam que ele pratique natação, o jogador
e sua família se mudam para uma casa com piscina. De início o exercício parece
fazer bem à saúde de Ray, mas coisas estranhas começam a acontecer com a
família dele ao redor da piscina.
Existe de fato uma maneira completamente objetiva de contar
a história de outra pessoa? A história das nossas vidas nos pertence ou é
construída de pontos de vista de pessoas externas a nós? Até que ponto as
histórias que contamos sobre nós mesmos não são um grande delírio sobre os
eventos reais que construímos na tentativa de nos blindar de lidar com as
implicações de nossas ações. Dirigido por Todd Haynes Segredos de um Escândalo coloca essas e outras perguntas diante de
nós.
A trama acompanha a atriz Elizabeth (Natalie Portman) que
está estudando para interpretar uma personagem baseada em uma pessoa real,
Gracie (Julianne Moore). Vinte anos atrás Gracie foi presa por manter um
relacionamento sexual com um garoto de treze anos. Ao sair da prisão ela
retomou o relacionamento e permaneceu casada com o rapaz, Joe (Charles Melton),
até o momento em que Elizabeth a procura para fazer o filme. Eles vivem uma
existência pacata no interior dos Estados Unidos, ocasionalmente lidando com um
ou outro olhar torto, mas parecem uma família estável, com um relacionamento
amoroso e dois filhos bem ajustados, embora o mesmo não possa ser dito dos
filhos do primeiro casamento de Grace.
Luto é um processo e nem todo mundo lida com a perda da
mesma maneira. Em alguns casos, como o tratamento de uma doença, podemos até
nos prepararmos aos poucos para a perda de alguém, mas pode ser muito mais
doloroso quando é uma perda súbita. É isso o que acontece em Do Outro Lado da Dor, escrito, dirigido e
estrelado por Dan Levy.
O marido de Marc (Dan Levy) morre depois que seu taxi colide
com um motorista bêbado saindo de uma festa de Natal. Um ano depois, Marc ainda
sofre com a perda de Oliver (Luke Evans) e finalmente resolve abrir o cartão de
Natal que o marido lhe deixou. Lá Marc descobre que Oliver tinha contado que
conheceu outra pessoa e investigando o espólio do marido se dá conta que ele
tinha alugado um apartamento em Paris e que havia outra pessoa com ele. Marc
então decide ir a Paris acompanhado dos amigos Thomas (Himesh Patel) e Sophie
(Ruth Negga).
Com uma produção conturbada, a minissérie Eco parecia condenada a não funcionar.
Fui assistir seus cinco episódios, que estrearam de vez na Disney+, sem esperar
muita coisa e confesso que fiquei positivamente surpreso com sua atmosfera
sombria e realismo urbano que remetia aos melhores momentos das séries da
Marvel na Netflix, em especial Demolidor.
A trama segue Maya Lopez (Alaqua Cox) depois dos eventos da
série do Gavião Arqueiro em que
baleou o Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio). Maya retorna para sua cidade natal em
Oklahoma para se reconectar com a família da qual foi alienada por Fisk. Maya,
no entanto, está com a cabeça a prêmio depois do atentado. Isso e o fato de
Fisk ter sobrevivido colocam ela e sua família em perigo.
Para quem não viu Gavião Arqueiro, o primeiro episódio da série serve para introduzir novamente
Maya, explorando sua tragédia pessoal com a morte do pai, a relação de mentor
que ela construiu com Fisk e sua eventual descoberta do que aconteceu com pai.
Não é meramente uma recapitulação, já que traz momentos que ampliam nosso conhecimento
da personagem e a inserem num contexto maior da cronologia do universo Marvel,
incluindo uma luta contra o Demolidor. Apesar disso, o início não afasta a
impressão de que seu conteúdo é relativamente redundante e faz a trama
principal demorar a engrenar.
Em uma determinada cena de Sindicato de Ladrões, o protagonista menciona que ter uma
consciência é algo que pode levar uma pessoa à loucura. O filme seminal de Elia
Kazan estrelado por Marlon Brando comemora seus 70 anos de lançamento em 2024 e
suas reflexões sobre consciência de classe e manter seus princípios diante da
corrupção ao nosso redor seguem válidos.
A trama acompanha Terry (Marlon Brando), um ex-boxeador que
passou a trabalhar para os mafiosos que controlam o sindicato dos portuários em
New Jersey. Quando uma pessoa próxima a Terry é morta por falar contra esses
corruptos líderes sindicais e Terry se aproxima da irmã do morto, o ex-boxeador
começa a se questionar se proteger esses mafiosos é mesmo a melhor escolha. A
narrativa é levemente baseada na história real de um portuário que tentou
derrubar o sindicato corrupto de onde trabalhava, mas se na vida real ele
fracassou, na ficção Kazan tece uma trama que nos lembra da força que os
trabalhadores tem quando se unem, mesmo que seja contra suas supostas
lideranças.
Dirigido por Alexander Payne, Os Rejeitados é um filme sobre solidão que pondera a respeito da
importância de conexões humanas em nossa vida. A trama se passa no final de
1970, em um colégio interno no interior dos Estados Unidos. Todos estão indo
embora para as festas de fim de ano, mas um professor precisa ficar para cuidar
dos alunos que, por qualquer motivo, não irão para casa durante o recesso. É
uma tarefa ingrata da qual muitos docentes fogem, recaindo para o professor de
História, Sr. Hunham (Paul Giamatti), por ele não ter família nem vida pessoal.
Detestado pelos alunos e sem mais ninguém pela escola,
Hunham acaba se aproximando de Tully (Dominic Sessa), aluno problemático que
basicamente foi largado na escola pela mãe que resolveu sair em lua de mel com
o novo marido. Aos dois se junta a cozinheira Mary (Da’Vine Joy Randolph), que
está passando pelo luto da perda do filho, falecido no Vietnã. São pessoas que
se sentem isoladas do mundo, desamparadas e sem rumo por um motivo ou outro.
Sem pressa e com um ritmo bem deliberado vamos aprendendo sobre esses
personagens conforme eles passam tempo juntos e se abrem uns com os outros.
Nunca fui exatamente fã de roguelikes, mas o excelente Hades
me fez ter interesse em jogos do tipo. De lá para cá experimentei títulos como 20XX e Rogue Legacy 2 que me mostraram como um exemplar bem feito do
gênero pode ser viciante. Dave The Diver
me chamou atenção pela sua mistura singular de roguelike e simulador de restaurante.
O jogador controla Dave, um mergulhador profissional que é
chamado por amigos para investigar uma estranha fenda oceânica que parece se
modificar a cada dia e traz peixes de diferentes partes do mundo. Além de
tentar descobrir o mistério do local, Dave também ajuda o chef Bancho com seu
restaurante japonês, pegando peixes para que ele faça pratos cada vez mais
elaborados e lucrativos.
O termo oscar bait
é normalmente usado para qualificar produções que parecem feitas sob medida
para a temporada de premiações. São filmes que seguem de perto aquilo que
normalmente encontramos em películas indicadas a prêmios, como tramas baseadas
em fatos reais, atores realizando transformações físicas e alguns outros
elementos. Maestro, biografia de
Leonard Bernstein dirigida e estrelada por Bradley Cooper, parece um filme
perfeitamente formatado para a temporada de prêmios, embora acabe não
entregando nada de interessante.
A narrativa segue Bernstein (Bradley Cooper) da juventude,
quando rege a Filarmônica de Nova Iorque pela primeira vez, até seus últimos. O
filme foca tanto no trabalho musical de Bernstein quanto na relação dele com o
a esposa, Felicia (Carey Mulligan). O problema é que a trama parece não ter
muito a dizer sobre o maestro além do fato dele ser genial e dele ser
bissexual, sem, no entanto, explorar esses dois elementos.
A primeira temporada de What If...? tinha algumas boas histórias, mas sofria um pouco com alguns
episódios que não desenvolviam suas premissas de modo interessante. Essa
segunda temporada é mais consistente na sua curadoria de histórias e apresenta
tramas que se valem melhor de suas ideias.
Como na primeira temporada, a série acerta ao situar suas
tramas em diferentes gêneros. O primeiro episódio protagonizado pela Nebulosa é
bem tributário ao film noir,
remetendo a produções como O Falcão
Maltês (1940) ou o noir futurista
de Blade Runner (1982). O episódio de
Peter Quill invadindo a Terra remete a filmes de monstro e aquele que traz
Happy preso na torre dos Vingadores com um bando de criminosos é claramente
feito para remeter a Duro de Matar(1988).
O diretor italiano Nanni Moretti é famoso por fazer filmes
que exploram o momento em que ele vive em sua vida pessoal. São produções com
um cunho autoficcional que partem de um sentimento autobiográfico para tecer
tramas que remetem às inquietações e sentimentos do diretor sem necessariamente
possuírem a ambição de serem um reflexo fidedigno de sua vida. Em Caro Diário (1993), por exemplo, ele
falou de seus problemas de saúde. Neste O
Melhor Está Por Vir ele fala de crises matrimoniais, desilusões políticas e
as transformações no mercado audiovisual.
A trama segue o diretor Giovanni (Nanni Moretti) que está
prestes a começar a produção sobre um filme a respeito do Partido Comunista
Italiano na década de 1950 e como eles reagiram à invasão soviética a Hungria.
Ao mesmo tempo, ele tem problemas em casa por conta da decisão de sua esposa,
Paola (Margherita Buy), de produzir um outro filme além do dele. O outro filme
produzido por Paola é um filme de máfia bem típico, o que incomoda Giovanni e
vai criando conflitos entre eles.
Feito para celebrar os 100 anos da Disney, Wish: O Poder dos Desejos é uma
homenagem mais focada em nos lembrar do longevo legado do estúdio do que para
mostrar o espírito de inovação que o tornou tão amado. É uma produção que tem
sua parcela de qualidades, mas que não tem o impacto que esperaríamos de uma
celebração de um século.
A trama é focada em Asha, uma jovem que deseja se tornar
aprendiz do rei Magnifico, um monarca que trouxe paz e prosperidade ao reino
com seu poder de extrair e guardar os desejos de seus cidadãos, realizando-os
periodicamente. Quando Asha descobre que o rei usa os desejos como forma de
controlar a população ao invés de inspirá-la, ela decide devolver os desejos ao
povo. A jovem faz um pedido para uma estrela e ela ganha vida. Agora, com a
ajuda da estrela e seus poderes mágicos, ela decide enfrentar o rei.
É uma trama típica da Disney, com animais falantes e números
musicais que nos lembra da importância de sonhar e perseguir os próprios
desejos. Não tem nada aqui que quebre o molde do estúdio, mas não chega a ser
um grande problema já que a produção tem carisma e encantamento o suficiente
para nos manter interessados. Os números musicais são vibrantes e alguns deles,
como o que envolve galinhas dançantes, remetem aos mosaicos das coreografias de
Busby Berkeley. Não tem nenhuma música que soe com o impacto de hit instantâneo algo como Dos Oruguitas ou Não Falamos do Bruno de Encanto (2021), mas são canções carismáticas que entregam o que se espera.
Muito da graça do filme vem de como a trama costura
referências aos vários filmes da Disney ao longo do último século, da silhueta
da Malévola que aparece no livro de magia sombria do rei, passando pelo fato de
que os amigos de Asha se vestem como os sete anões, que o manto que a
protagonista usa remete ao da fada madrinha de Cinderela (1950) ou o vilão basicamente se tornar ao final no
espelho da Rainha Má de Branca de Neve e
os Sete Anões (1937). Nesse sentido, o avô de Asha ser um idoso de 100 anos
em busca de alcançar seu desejo de inspirar as pessoas é uma clara metáfora
para a Disney em si, que chega ao seu aniversário de um século ainda tentando
nos fazer acreditar nos sonhos e na magia.
Como algo que nos diz o tempo todo que foi feito para
celebrar o legado do seu estúdio, é relativamente decepcionante que ele
arrisque tão pouco e prefira que sua celebração consista meramente de repousar
sobre os próprios louros passados (nos lembrando de vários filmes melhores do
que esse que estamos assistindo) do que em nos mostrar que a Disney ainda é
capaz de inovar, de nos surpreender, de nos pegar desprevenidos e nos fazer nos
perguntar “como eles imaginaram isso?” como fizemos em seus filmes mais
memoráveis. Ao invés de nos mostrar como tem vigor para mais outros 100 anos de
encantamento Wish: O Poder dos Desejos
se acomoda em meramente nos fazer lembrar das glórias passadas. Claro, o filme
tem lá seus bons momentos e não tem nada de particularmente problemático, só
não está plenamente à altura de ser celebração que se propõe a ser.